Análise de dados

26/02/2021

Última atualização: 31/10/2022

Análise de dados: a intenção de investimento da indústria para 2021

Qual será o panorama da indústria em 2021? Melhora? Piora? Os empregos vão voltar? Se sim, qual tipo de profissional o mercado irá buscar na retomada? Para responder a essas perguntas, olhamos os dados coletados na pesquisa Investimentos na Indústria 2020-2021, realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em fevereiro. Na pesquisa é possível identificar otimismo nas grandes empresas, pois 82% pretendem investir em 2021 para melhorar o processo produtivo e aumentar a capacidade de produção.

Como está a intenção de investimento da indústria para 2021?

À primeira vista, esse número é animador. Porém, ao analisar dados de 2020, o número apontado pela pesquisa era de 84%. Logo, em 2021 as expectativas estão piores que em 2020. Como assim? 82% das grandes empresas pretendem investir e a notícia não é boa? Não sei se é boa ou ruim, ou melhor, até indiferente. Pelos números parece que o indicador está na faixa de variação normal, ou seja, não há mudança em relação ao ano passado. Esse conceito, de 1930, pode ser colocado em prática por meio de um gráfico de controle. Que tal colocar os dados nesse gráfico? [caption id="attachment_28372" align="aligncenter" width="500"] Figura 1: Gráfico de Controle - Intenção de Investimento.[/caption] Pela figura 1, fica claro que nossa percepção inicial estava correta. A variação entre 2020 e 2020 da série histórica é considerada normal. Aliás, o índice está estatisticamente estacionado desde 2018, sendo 2016 o ano fora da curva. Se lembrarmos o que foi 2016, com o impedimento da presidente Dilma, podemos inferir que o risco da pandemia no início de 2020 era um temor menor. A indústria teve mais medo da Dilma que a pandemia, apesar dos impactos serem piores agora.

Como foi o investimento das empresas em 2020?

Na mesma pesquisa, há uma pergunta relacionada ao percentual de empresas que investiram no ano. A exemplo da análise de intenção, é importante analisá-la frente aos conceitos de 1930 de Walter Shewhart para verificar se há algo realmente diferente em 2020. [caption id="attachment_28374" align="aligncenter" width="500"] Figura 2: Gráfico de Controle - Execução do Investimento.[/caption] A exemplo da análise da intenção de investimento, não se pode afirmar que 2020 foi estatisticamente pior que os outros anos. A dificuldade de investimento vem desde 2016, o que nos leva a entender um pouco da dificuldade do PIB em crescer. Sem o investimento das indústrias, é difícil ocorrer um avanço do PIB e uma redução na taxa de desemprego sustentável. Não acreditamos, segundo os dados apresentados pela CNI, que haverá uma mudança muito grande em 2021. Se tivesse que dar um palpite, iria pela estabilidade e faria uma estimativa de que 75% das indústrias irão investir em 2021, algo próximo de 2019. Se for igual, espera-se um crescimento de PIB em torno de 2% para o país, sem investimento vultosos da indústria como os observados em 2011 e 2012. 

Qual % da indústria realizou parcialmente, adiou ou cancelou os investimentos?

A pesquisa da CNI traz, além dos dados da figura 1 e 2, o chamado percentual de frustração das indústrias. A frustração se dá quando os investimentos planejados, medidos pelo percentual de indústrias com a intenção de investir, não acontecem. Vejamos, por meio do gráfico de controle, a variação do índice de frustração. [caption id="attachment_28379" align="aligncenter" width="500"] Figura 3: Investimentos realizados parcialmente, adiados ou cancelados.[/caption] A exemplo dos índices analisados na figura 1 e 2, a figura 3 deixa claro a variação normal do indicador. No Brasil, é normal que de 29,75% a 67,52% das empresas tenham sua expectativa de investimento frustrada. Apesar de normal, não acho que seja um resultado bom ou passível de comemoração. Como causa desse resultado, pode-se atribuir a instabilidade e incerteza da economia brasileira e a baixa capacidade de previsão das empresas frente a esse cenário. Não se pode considerar um sucesso quando 50% das empresas não conseguem investir como planejam. Imagino os gastos com projetos, planejamento e busca por financiamentos que foram desperdiçados ao cancelar os investimentos.

Qual a diferença entre intenção e gesto?

Se 84% das empresas pretendiam investir em 2020, mas só 69% investiu de fato, pode-se dizer que 15% das empresas previam um cenário melhor do que de fato ocorreu. O ano de 2020 foi pior do que a maioria previu. Pela lógica, poderíamos utilizar como ferramenta o gráfico de tendência para avaliar os anos em que a indústria errou sua previsão de investimento e se o ano foi melhor ou pior do que o esperado. [caption id="attachment_28380" align="aligncenter" width="500"] Figura 4: % de empresas que erraram na expectativa de investimento.[/caption] Por essa lógica, percebemos que o otimismo é a tônica da indústria para 2021, pois somente nos anos de 2016 e 2017 o número de indústrias que investiram foi maior do que as que planejavam investir. No resto, a expectativa de investimento sempre foi frustrada. Colocando esses dados num gráfico de controle para avaliar a variação natural do erro de expectativas, pode-se avaliar qual dos anos foi realmente diferente. Faremos isso na figura 5. [caption id="attachment_28381" align="aligncenter" width="500"] Figura 5: Gráfico de controle do % de empresas que erraram na expectativa de investimento.[/caption] Para colocar um pouco mais de molho na análise, coloquei a opção de estágios no gráfico da figura 5. A intenção quando faço isso é comparar se o erro na previsão tem a ver com o presidente em exercício. Pelo gráfico ficou claro que no governo Dilma a indústria tinha uma capacidade de prever se investiria ou não maior do que nos governos Temer e Bolsonaro.  No governo Temer, parecer ter acontecido uma surpresa positiva com os empresários prevendo um 2017 pior do que foi de fato. Em 2018, o contrário aconteceu. Já no governo Bolsonaro, a realidade frustra a expectativa de maneira peremptória. É interessante notarmos a diferença de 6% em 2019 e 15% em 2020, ou seja, podemos atribuir 9% à pandemia e 6% ao erro na expectativa do desempenho do governo.  Resumindo: a indústria precisa melhorar o processo de previsão dos investimentos, ou governo ter um planejamento de longo prazo, com um esforço de comunicação muito maior. Imagino que o planejamento de longo prazo seja condição fundamental para permitir ao empresário realizar seus investimentos. Caso contrário, a elevação do PIB estará limitada a 2% e ainda assim, por períodos curtos. 

Quais as causas apontadas para a frustração no investimento?

36% das empresas consultadas apontaram o mercado doméstico para seus produtos, ou seja, perderam mercado consumidor e venda. Tal fato é perfeitamente compreensível num ano de pandemia, em que o mercado de viagens e alimentação fora de caso praticamente parou. Em segundo lugar, com 35%, vem o aumento nos custos previstos do investimento. Esse fator, seja pelo aumento do dólar ou pela aceleração do IGP-M (alta de 23,14%) durante 2020.  Em terceiro lugar, a dificuldade de acesso a matéria-prima 23%, acesso ou alto custo do financiamento 16% e por aí vai. Não foi um ano fácil e os problemas listados tem sua causa fundamental na pandemia e nas mudanças sistêmicas causadas pela pandemia.

No que a indústria 2021 pretende investir?

Outro dado interessante da pesquisa é o objetivo dos investimentos. Aqui, observa-se uma preocupação das indústrias (35%) na melhora do processo produtivo, 33% no aumento da capacidade produtiva e 15% na manutenção da capacidade produtiva. Melhorar processos, aumentar capacidade e tornar a manutenção mais robusta são objetivos que requerem das habilidades trabalhadas em nosso Plano de Desenvolvimento, presentes na Assinatura FM2S. Num cenário de necessidade de mais produção e produtividade para indústria em 2021, a educação é o investimento que mais retorno trará. Não imagino que o cenário para 2021, pelas pesquisas, será de investimento pesado em máquinas e equipamentos, haja vista a capacidade ociosa ainda presente. Capacitar a equipe ou recrutar profissionais mais capacitados, parece ser a solução a ser adotada em 2021 pelas indústrias. Para as empresas que decidem investir em educação, as chances de aumento de custos e dificuldade de manutenção nos preços da matéria-prima são menores, o que reduz a probabilidade de cortá-los. Quem decidir investir na educação dos seus colaboradores conseguem melhorar o processo produtivo, reduzir seus problemas de manutenção e reduzir seus custos, mesmo num cenário de adversidade. Acho que o único problema que poderá freá-lo é a queda na receita. 

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