Análise de dados

06/03/2017

Última atualização: 25/01/2023

Como ter sucesso na carreira corporativa?

Como estruturar sua carreira corporativa?


Quando converso com meus amigos que estão trabalhando em grandes empresas, ou quando lembro das minhas experiências em grandes organizações, vem-me à cabeça o Dr. Simão Bacamarte. Lembram dele? O grande médico natural de Itaguaí e CEO da Casa Verde e sua carreira corporativa.


Dr. Simão, dedica-se fortemente ao estudo e depois de muito analisar, abraça a teoria de que onde não há razão, há supostamente um desequilíbrio mental. Nessa pegada, Dr. Simão começa a internar toda a cidade em seu manicômio. A Casa Verde, de repente, vai ficando lotada. Começou com quem tinha mania de orar, depois, com os vaidosos seguidos pelos rentistas (ou agiotas), com quem era gentil demais até que todos da cidade estavam internados.



Tudo bem, mas o que tem a ver o livro do nosso Machado de Assis com a carreira corporativa? Muita coisa. Por que? Porque penso que se tivéssemos a possibilidade dada ao Dr. Simão de internar quem nós julgamos loucos na empresa, restariam poucos, muito poucos de fora. Digo isso pela dificuldade que temos em entender certas ações, comentários e atitudes de nossos pares. E por que é difícil entender? Porque não temos todas as informações que nossos pares dispõem e nem entendemos que cada pessoa tem uma percepção.



Como ter sucesso na Carreira Corporativa?


Deixe-me explicar. Imagine que você olhe a carreira corporativa de um colega e enxerga que ele tem uma dificuldade na área de método. Ele é um ótimo profissional, se relaciona bem, mas na hora de liderar os projetos de melhoria, acaba partindo para a tentativa e erro, o que nem sempre dá resultado. Aí, você sugere que ele se esforce para aprender mais o método e pede a ele que curse um Green Belt, por exemplo. Na sua percepção, seu amigo iria muito melhor se ele investisse o pouco tempo que tem no aprendizado do método.


E seu amigo? Será que ele irá concordar com você? Depende. Imagine que seu amigo foi um cara que nunca gostou muito de estudar e a maioria de seus feitos, foram alcançados por sua capacidade de convencimento e de “vender” a ideia. Toda vez que ele tinha um problema para resolver, ao invés de lançar mão do método, ele conversava com várias pessoas e conseguia encontrar, na maioria das vezes, a saída. Seu amigo tornou-se mestre em utilizar o diagrama de afinidades para resolver problemas complexos, mas simples. E aí, será que ele vai acatar sua sugestão e começar a estudar?


Arrisco dizer que na percepção dele, não faria muito sentido encampar o curso. Mas como assim, você pode pensar. Ele quer crescer na carreira corporativa e, isso é fundamental. Se não aceitar investir tempo num Green Belt, Lean ou Black Belt, ele não irá crescer. Calma Dr. Simão. Tente avaliar o que é, na percepção dele, o estudo. Na sua, que vem de um histórico escolar impecável e que, sempre contou com o método e os livros para resolver seus problemas, o estudo é a saída, a evolução.



É possível dar "jeitinho" na carreira corporativa?


Já na dele, que nunca foi convencido de que o estudo era importante e, que sempre “deu um jeitinho” sem precisar se aprofundar, aposto que estudo é um fardo. Sim, um sofrimento inútil, pois em seus tempos de aluno ele não deve ter tido nenhum professor que se fazia um mestre. Alguém que mostrava o caminho. Imagino que na sua formação, tanto os pais como os mestres sempre alimentaram a percepção de que estudo era um mal necessário. Um sofrimento passageiro na busca pelo diploma e não, um aprendizado, uma arma poderosa que tornaria grandes desafios mais fáceis.


Se você o julgar por sua percepção, ele é um malandro, puxa saco e garganta que merece ser internado. Se ele, o julgar pela percepção dele, você é um nerd que não sabe falar com as pessoas, que foi sempre paparicado pela família e que acha que a vida se resume a bons livros. Teoria não funciona na prática. E aí, pergunto a você caro leitor dessa crônica da carreira corporativa? Quem está certo e quem merece ser internado pelo Dr. Simão? Difícil não?


Por isso, sempre que for julgar um colega de carreira corporativa tenha em mente qual deve ser a percepção de cada um. Como seu colega processa as informações? É parecida com você? Para mim, PDSA é a ferramenta que trouxe o método científico para empresa. É a sacada do século na área da produção feita por Deming, que melhorou o ciclo do conhecimento de seu mestre Dr. Shewhart. Agora, para meu colega, pode ser alguém escrevendo errado o PDCA ou mais uma sopa de letrinhas da galera de quem quer aparecer e falar bonito. Portanto, acalme-se.



Como conduzir conversas difíceis na carreira?


Aprendi, no livro Conversas Difíceis que antes de tentarmos internar ou brigar com alguém, devemos investir tempo para decifrar a sua percepção. Suas experiências e lembranças construíram seu modelo mental e, portanto, é difícil achar pessoas com modelos mentais idênticos em tudo. Nem irmãos são iguais, que dirá dos colegas da carreira corporativa.


Para consolidar o que falo, gosto de citar exemplos. E, o período de maior uso que fiz da capacidade de entender as percepções foi quando mudei de carreira. Até 2014, dedicava-me ao doutorado e a consultoria, ministrando treinamentos e fazendo projetos. Aí, mudei-me para um emprega gigante e fui para o Centro de Serviços Compartilhados. Pensa a confusão que deu na cabeça na hora de entender as pessoas e fazer inferências. Mesmo meu vocabulário, carregado em termos técnicos, precisou ser revisto, pois comunicar-me era uma tarefa complicada.


Passados 6 meses, comecei a me ambientar e a entender o porquê de muitas coisas que não compreendia. Atuar como consultor e como gerente, são coisas bem diferentes. Veio-me à lembrança vários projetos em que não entendera o porquê o gerente não havia logrado êxito na implementação de algumas mudanças e, quando mudei a cadeira, ficou muito claro. Essa chacoalhada foi um aprendizado intenso, mais até do que minha ferramenta predileta, o VSM.



Como aprender com os erros?


Meu modelo de aprendizado, altamente calcado no conhecimento estruturado (livros e artigos), teve de sofrer um complemento. Apelei ao conhecimento tácito de muita gente, para entender um pouco mais sobre como vencer os desafios da equipe, dos chefes, a empresa e claro, dos pares e clientes internos. Foi ótimo, apesar de doloroso, como quase todo aprendizado. Mas serviu-me de para compreender na prática a importância de considerarmos o modelo mental das pessoas e assim, sermos mais claros na comunicação. Desse jeito, conseguimos entender o que cada gesto, palavra e atitude, significará na cabeça de nosso colega e assim, a mensagem que tentamos passar, será muito mais acertada.


Ao entender bem seu colega e seus pares, a convivência ficará muito mais prazerosa e o Dr. Simão Bacamarte que há em nós, ficará mais contido. Se não procurarmos emular a percepção do outro, terminaremos todos como o Dr. Simão, sozinhos e fora do convívio dos nossos colegas. Portanto, desenvolva essa habilidade. Vai te ajudar demais nos projetos complexos que irá enfrentar, como um líder de melhoria. Ter bons argumentos e saber comunicar-se com a equipe, será fundamental para o seu sucesso.