Seis Sigma

26/09/2017

Última atualização: 25/01/2023

Como ter sucesso no estágio do ensino superior?

Como é a visão do Estágio?


Quantas expectativas eu tinha acerca do meu estágio. Para mim, em 2005, o estágio era a diferença entre o sucesso e o fracasso profissional. Quanto ansiava por esse momento. Quanto desejava a minha independência financeira, a chance de provar que eu poderia ser alguém. Um estágio no quarto ano de engenharia, era para mim, a declaração alforria dos meus pais e a chance de encher de orgulho a família.


Tinha tentado antes, mas nossa faculdade não autorizava estágio antes do quinto ano. Só podíamos começar a correr atrás ao final do quarto e por isso, era tenso. Lembro com detalhes da rotina. Buscávamos no Google, revistas, sites, dicas, enfim, em todo lugar. Depois, nos inscrevíamos e começávamos a bateria de testes. Lógica, inglês, conhecimentos gerais e até redação. Muitos colegas reuniam-se para fazer os testes em turma, mas eu preferia fazer sozinho. Achava que se ganhasse a vaga sem seguir as regras, não daria conta do recado.



Como aconteceu a seleção para as dinâmicas?


Selecionado, meu coração disparava porque estava na fase da dinâmica de grupo. Sim, era uma vitória. Uma oportunidade de eu mostrar quem era. Dinâmica 1, 2, 3... n. Foram tantas de tantas empresas que não me recordo. Ao final, os escolhidos iam para um painel com os gestores. Uau! Quanta responsa! O que será que aquele senhor ou senhora poderia me perguntar? Será que seria em inglês? Será que conseguiria mostrar que era esforçado?


E depois? Aquela angústia para esperar a resposta? No primeiro que fui, cheguei a entrevista, mas não passei. Lembro até hoje: estágio na área de materiais para o mercado aeronáutico na 3M. Fiquei arrasado. Gosto tanto de aeronaves, mas fomos em 3 para a entrevista final e só um havia passado. Dois Unicamp e um UTFPR. Passou a menina da UTFPR. Saímos os dois, arrasados. Mas, bola para frente.



Até que enfim conseguia...


O segundo desafio foi por acaso. Sentado no sofá, vi um anúncio na Veja do Santander Atacado. Vi que engenheiros eram desejáveis e fiquei muito animado. Na época, para um engenheiro, trabalhar em consultoria ou banco eram os empregos mais cobiçados. Comecei a me imaginar em São Paulo, de terno e gravata, pensando grandes equações matemáticas para dominar o mundo.


Depois dos testes, rumei à São Paulo. Peguei o buzão em Campinas e segui para o Tietê. Lá, metrô até a paulista para fazer a dinâmica de grupo. Mais umas 3 horas de histórias, desafios e muita esperança. No retorno, fui sonhando com o momento em que seria chamado. A gente ouve tanta coisa no processo, que a vaga parece aos olhos de um jovem aspirante a estagiário, uma vaga de Vice Presidente.


Selecionado, fui para as entrevistas finais, mas fui preterido. Naquele dia, não fui escolhido e por isso, fiquei preocupado. Porém, duas semanas depois um telefonema me animou. Havia sido escolhido. Uau! Agora sim. Tinha conseguido um estágio no banco. Uma carreira brilhante batia a porta e depois de muita tensão nas entrevistas, a coisa havia dado certo.


Problema: tinha que conseguir um local em São Paulo para morar e uma vestimenta para ir ao trabalho. Era um estagiário chique, que trabalharia de terno e gravata. Quem me conhece, sabe o espanto que fiquei com aquilo, pois sou dos mais informais possível. Mas, era pré-requisito e lá fomos nós para a aquisição de dois belíssimos ternos de fina estampa. Dois ternos de microfibra na promoção, por R$ 199,00. Na época, esse era um valor que me custaria alguns meses de salário. Ganharia R$ 1.500,00, mas as despesas eram grandes.


Na integração, vimos tudo que o banco nos reservava e que nós havíamos sidos escolhidos para brilhar. A trilha que se mostrava aberta, era o sucesso. A excitação e expectativa estavam maiores do que as do Galvão na final da copa do mundo. Quem já passou ou está passando por essa fase? Pode comentar.



Mas qual é a realidade do estágio?


Porém, quando a gente entra, a coisa é diferente. A expectativa que fora criada, nem se tivesse na Gestão de Projetos da Nasa, seria alcançada. E, como falou-me uma vez meu amigo Rafael Modolo, “expectativa – realidade = frustração”. Passado o primeiro mês, a animação caiu um pouco.


Mas resiliência é algo importante. Dois meses depois, meu gerente mudou de área e o analista para o qual eu respondia, pediu a conta. Fiquei direto com o novo gerente. Trabalharia respondendo direto ao meu gestor. Tinha um ar de triunfo interno, pois já era quase um analista. Se fosse pensar de fato, eu era. As chances de efetivação, único objetivo de vida de um estagiário na época, era a tão sonhada efetivação.


E, como tal, comecei a ler e a estudar para tentar aprender o mais rápido possível tudo que poderia. O banco precisava de mim. Estava animado e a animação crescia mais ainda com a aproximação da efetivação. Mas, numa rotação dos estagiários, fui transferido e voltei para o mundo real. Comecei a responder para um analista novamente e, minha motivação se foi.


Desmotivado, dedicando-me a ajustar detalhes nas apresentações PowerPoint do meu chefe, fiquei desgostoso. Tenho que abrir um parêntese: meu chefe era muito gente boa comigo, mas morar na capital, tendo meu primeiro choque de realidade e vindo de uma família de empreendedores, me fez desistir. Pedi a conta e fui estagiar na empresa da família.



Como entender o estágio?


Hoje, com a maturidade dos 33 anos, vejo como o estágio foi um período rico da minha vida. Aquela oportunidade que tive de interagir com pessoas diferentes era muito boa, mesmo sem eu saber. Oportunidade de aprender no trabalho, com a experiência do meu primeiro chefe (Rogério Santa Fé Zacharias), com o segundo (Fábio Sato), com os analistas (Leandrinho, Lee Law, Raymi Nehr, Cesinha), com colegas de estágio (Lepski, Alessandra Mak, Germano, Raphael, Renata, Julio)... Foi algo incrível.


Você sai da faculdade, um ambiente mais controlado em que seu desejo de ser o melhor é medido por meio das suas notas nas disciplinas e cai em um lugar, onde o seu desempenho não tem medição clara. Para um engenheiro, isso era um abismo. Desde os 4 anos sendo medido pelo meu desempenho escolar e de repente, não havia mais isso. Minha tábua de salvação e controle da ansiedade e segurança tinha sumido.


O sistema não era conhecido. Era complexo. Tinha de entregar o resultado (na minha cabeça), mas não era apenas sentar, ler e fazer exercícios de fixação. Era necessário conversar, negociar recursos, aprender a vender minhas ideias e não bater de frente.


Aprendi que pessoas que você menos espera te ajudam. Sou grato até hoje por um treinamento feito por um analista do Middle Market, chamado Leandro. Ele ministrou para ensinar a Gestoras Operacionais a operarem o Siebel 7. Era a nova versão do sistema de CRM do banco. O treinamento era meu, mas como não sabia nada, ele me salvou na hora H.


Lembro-me da ajuda que a Raymi me dava para que não ficasse louco e soubesse com quem falar. Foi fundamental a ajuda, dado meu pavor de falar com pessoas estranhas. Dona Maria Isabel, também merece menção. Era uma experiente funcionária que eu cismava em importuná-la, mostrando as possibilidades do Seis Sigma. Buzinava que era muito importante mapearmos seus processos, por meio de um fluxograma (não conhecia o SIPOC na época) para encontrarmos oportunidades de mudanças.



Como o estágio dá aulas de humildade?


Era duro e, não sabia ouvir muito. Outro aprendizado foi a força que as senhoras do backoffice me deram no dia de uma migração frustrada de sistemas. Nesse dia, depois da catástrofe e da perda de toda base de dados, fui de computador em computador com um disquete (ainda existia) colando a base que TI tinha recuperado. Ao final, dei de presente a elas uma caixa de bombom Nestlé. Foi uma festa.


Hoje, vejo que o aprendizado mais importante do estágio foi isso: lidar com problemas complexos e com maneiras de avaliação diferentes. Foi meu primeiro passo no mundo real, onde não me era mais perguntado o valor de 2+2, mas me era perguntado quais dois valores somados poderiam dar 8. Nesse batismo, me foi dado uma equação e duas incógnitas. O sistema linear cuja solução aprendi na sexta série, não bastava para resolvê-lo.


Para concluir, se você está nessa fase, caro estagiário, aproveite. Respire e vá com calma. Não fique nervoso. Respire e faça bom uso das ferramentas que o mercado hoje nos oferece. Na minha época, pensar num curso White Belt ou Lean EAD era ficção científica. Hoje, vocês têm esse recurso. Aproveitem. Irá ajuda-los demais e por isso, vocês chegarão ao estágio com alguns anos de experiência.


Como conselho, tente ser mais maduro. Por maduro, entendo menos mimimi ou “frescuras” como as que tinha. Um dia, durante a copa, dei um jeito de ir com a camisa do Brasil. Acha que terno combina com isso? E, no casual day que era as sextas feiras, ia de tênis, jeans e camiseta... Não precisava né? Poderia ser um cara mais maduro e ir de polo ao menos.


Outra dica, é para tomar cuidado com as aparências. Por mais que fosse um autêntico millenium ou representante da geração Y, não precisava ser tão avesso a elas. Na hora do almoço, abríamos o homebroker e ficávamos operando todo nosso salário em ações. Lembro dos sustos que tomei operando VAGV4 (Varig) na época pré-falência. Poderia operá-la em casa. Também lembro, da bolsa de valores que fizemos dos times no campeonato paulista. Era uma espécie rudimentar de Cartola misturado com Win Eleven... Por mais legal que fosse essa vida, um pouco de maturidade não me faria mal.