Como entender a aleatoriedade?
Aleatoriedade: por que nós subestimamos tanto esse conceito tão presente no mundo e que nos ajuda a entender a maioria dos acontecimentos? Por que, apesar de sabermos da importância dele acabamos sendo enganados e ludibriados por ele?
Nosso gerente do banco nos recomenda que invistamos em fundos mútuos brasileiros que “tem ganho de lavada do CDB” por cinco anos consecutivos. Nosso médico atribui o aumento nos triglicérides a nosso novo hábito de degustar um pedaço de bolo de chocolate ao leite todas as manhãs, depois de darmos café às crianças. Podemos ou não seguir os conselhos de nosso corretor ou nosso médico, mas poucos de nós questionamos se esses profissionais os baseiam em dados suficientes. No mundo político, econômico e empresarial – até mesmo quando há carreiras de milhões em jogo -, frequentemente os eventos fortuitos são mal interpretados como fracassos ou sucessos, quando não, maldições ou bênçãos.
Os filmes nos fornecem boas ilustrações desse fato. Serão merecidas as recompensas e punições no mundo do cinema, ou será que a sorte tem um papel muito mais importante do que imaginamos no sucesso (e fracasso) de público de um filme? Todos entendemos que a genialidade não garante o sucesso, mas é tentador presumir que o sucesso deve emergir da genialidade. Ainda assim, a ideia de que ninguém é capaz de prever se um filme será bem ou mal sucedido tem sido um palpite desconfortável ao menos desde o dia em que William Goldman escreveu seu clássico “As aventuras de um roteirista de Hollywwod”, em 1983.
Como a aleatoriedade está presente no Cinema?
No livro, Goldman cita David Picker que disse certa vez: “Se eu tivesse dito sim a todos os projetos que recusei, e não a todos os que aceitei, a coisa teria funcionado da mais ou menos da mesma maneira”.
Isso não quer dizer que um tremido filme de terror caseiro poderia se tornar um grande sucesso com a mesma facilidade que, digamos, O Exorcista, cujo orçamento estimado era de 80 milhões. Lembram da Bruxa de Blair? Custou 60 mil dólares e rendeu 140 milhões. Nada mau, não?
Goldman refere-se apenas filmes profissionais, excluindo o caso da loteria de Blair. Porém, Goldman diz apenas que os fatores que irão predizer o sucesso de um filme são tão complexos e que o caminho que vai do sinal verde ao lançamento é tão vulnerável a influências imprevisíveis e incontroláveis que palpites bem informados sobre o potencial de um filme ainda não produzido não são muito mais eficientes que um cara ou coroa. É a aleatoriedade presente no resultado esperado.
Como exemplo de mais aleatoriedade no cinema, podemos citar o super fracasso Ishtar, com gasto de 55 milhões e bilheteria de 14 milhões e o O último grande herói, com o mestre Schwarzenegger que gastou 85 milhões e rendeu 50 milhões. Já George Lucas, teve de batalhar muito para conseguir 1 milhão para rodar o seu Loucuras de Verão, que rendeu 114 milhões aos cofres da Universal. Lucas também tem o clássico Star Wars, em que recebeu 200 mil dólares para escrever o dirigir o primeiro filme e que depois, rendeu aos estúdios 461 milhões com um investimento de 13.
Quais os melhores Filmes da história?
Olhando assim, a habilidade de um executivo de encontrar filmes que renderão grandes bilheterias é mera ilusão. Apesar da arrogância de alguns, nenhum executivo vale um contrato de 30 milhões por ano. Eventos aleatórios surgem frequentemente surgem como as passas num panetone – em grupos, sequências e amontoados. Se 10 executivos jogarem 10 moedas cada um, ainda que todos tenham chances iguais de ganhar ou perder, no final haverá ganhadores e perdedores. Haverá 2 chances em 3 de que ao menos 1 dos executivos jogue 8 ou mais caras ou coroas.
Mlodinow conta em seu Livro Andar do Bêbado a história de Sherryl Lansing, diretora da Paramount. Sob seu comando, a empresa ganhou os prêmios de melhor filme com Forest Gump, Coração Valente e Titanic, vivendo os dois anos mais rentáveis da sua história. Então, sua reputação foi à ruína depois que o estúdio passou um longo período abaixo do esperado.
A explicação, em termos matemáticos para o destino de Lansing foi a queda na participação de mercado ocupado pelo estúdio ao longo dos anos (11,4; 10,6; 11,3; 7,4; 7,1 e 6,7). Segundo a Business Week, Lansing havia perdido a mão e por isso, o estúdio a trocou pelo talentoso Brad Grey.
E na vida?
Como é possível que ela tenha sete excelentes anos e depois, despenque do dia para noite? Muitas teorias foram propostas. Mas o que você, nosso leitor pensa? Se você é um daqueles que tem o selo FM2S no currículo, tenho certeza que está levantando a mão e falando: entendimento da variação! Aleatoriedade é explicada no saber profundo de Deming. Se fez isso, meus parabéns. É exatamente isso que se trata. Está vendo a importância dos conceitos do Seis Sigma ensinados no Green Belt e no Black Belt? Vê como isso evitaria que fosse enganado pela aleatoriedade? Toda vez que se deparar com coisas assim, pare e pense. Se assim o fizer, tenho certeza de que não será enganado e que ganhará destaque quando as coisas “voltarem ao normal”.
Antes de sofrer os acidentes e as contingências que a vida traz, ou no lado afortunado, antes de aproveitar as recompensas que os eventos igualmente acidentais e imprevisíveis nos trazem, podemos pensar que controlamos principalmente as coisas: podemos planejar e prever com precisão justa muito que acontece em nossas vidas. Inegavelmente, há pessoas que podem dizer honestamente que grande parte de sua vida foi de acordo com o plano.
Sim, houve eventos imprevisíveis que não poderiam ter previsto, mas os planos eram flexíveis o suficiente para permitir contingências imprevistas. Aqui podemos pensar na Constituição de U. S. e na forma como foi enquadrada para que as leis e as estruturas governamentais baseadas nela fossem flexíveis o suficiente para lidar com todas as contingências subsequentes que ninguém poderia ter predito nos anos que se seguiram imediatamente a 1776.
Mas para a maior maioria de nós, é razoável dizer que muitos eventos entraram em jogo que nunca esperávamos ou planejamos, ou que podíamos ter controlado. No entanto, esses eventos alteraram muito a direção que nossas vidas levaram. Muitos de nós podemos concordar quando ele caracteriza a vida da maioria das pessoas como parecida com uma caminhada de bêbado: willy-nilly, saltando aqui e ali e não seguindo nenhum caminho previsível.
Quantos de nós podemos afirmar que nossas vidas acabaram por ter imaginado e planejado (ou como planejavam nossos pais) quando estávamos terminando o ensino médio? Nós realmente conseguimos nos casar com aquela linda jovem que era nosso "verdadeiro amor" no ensino médio ou na faculdade, ou acabamos nos casando com alguém completamente imprevisto, em muitos casos uma interseção afortunada em nossas vidas com alguém de uma parte diferente do mundo?
Nós realmente pensamos que acabaríamos por ser profissionais de informática quando nem sequer conhecêssemos os computadores quando planejamos nossos movimentos após o ensino médio? "Nós fomos para a faculdade para se tornar engenheiros e professores, mas ocorreu um acidente e acabamos nas forças armadas, onde fomos treinados em eletrônicos. Então houve uma grande necessidade de programadores de computador. E a próxima coisa que conhecemos, aí estávamos ocupados escrevendo código de computador. "Para muitos de nós, quando refletimos sobre o caminho que nossas vidas tomaram, devemos concordar que de muitas maneiras o caminho da nossa vida se assemelhou ao caminho casual de um Marinheiro bêbado.