Dizia Descartes que o bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada: pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os mais difíceis de contentar com qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. Diante de tal afirmação, fica fácil entender o porquê de tanta discussões, raiva e tempo perdido encontramos por aí. O método Cartesiano nos ajuda a escapar deste traiçoeiro caminho.
No post de hoje, vamos apresentar o que é bom senso e, mais importante, quais são seus riscos.
Definição de bom senso
O dicionário Priberam define bom senso como: “Equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta”.
Ou seja, ter bom senso é ter a capacidade de tomar boas decisões, ou no mínimo razoáveis, no dia a dia, tendo julgamentos corretos nas situações em que se encontra.
Exemplo de bom senso:
Imagine que você tem uma entrevista de emprego importante no dia seguinte de manhã, bem cedo. O bom senso indicaria que é melhor ir dormir cedo para estar descansado e atento no outro dia, ao invés de ficar acordado até de madrugada.
Como colocar o bom senso em ação?
Há reuniões de projetos ou estratégicas em que o “bom senso” domina as discussões, o que leva a embates épicos sobre quem está certo. Essas discussões têm como produto uma decisão mal fundamentada e muito rancor acumulado em todos os presentes, o que não é benéfico para nenhuma organização.
Quando vejo um embate destes, relembro que a diversidade de nossas opiniões não se deve a uns serem mais racionais que os outros. Se deve por termos conduzido nossos pensamentos por vias diversas e por não termos considerado as mesmas coisas. É que o processamento dos fatos que vocês observaram tiveram interpretações diferentes, pois cada um possui um modelo mental.
Lembro-me de uma discussão interessante. Discorríamos sobre como atacar algumas metas desafiadoras e no momento definirmos a estratégia, começamos um embate. Quando citei a utilização de um Programa de Melhoria, vi que um dos membros se mostrou contrário. Na percepção dele, preferia-se que tentássemos alcançar o objetivo por meio de projetos gerenciando pela metodologia tradicional de Gestão de Projetos. Então, paramos e pensamos: qual seria realmente a melhor solução? Qual ferramenta poderia nos ajudar a responder tal questão? De certo que não era apelarmos para o bom senso, pois ambos achávamos termos bom senso em excesso e estarmos corretos.
Para resolver esse problema, começamos a discorrer sobre o caminho que os pensamentos haviam feito para sugerirmos essas estratégias. Por que você pensou no Programa de Melhoria e por que a outra pessoa pensou na Gestão de Projetos? Eu sei, não foi fácil convencermos os atores a explicarem o caminho que seus pensamentos haviam feito. Se deixar, vamos acabar preferindo o embate e, depois que entramos na discussão, é complicado alguém deseja encerrá-lo.
Mas quando começamos a discutir, ficou claro que o ponto principal para a tomada de decisão era a resposta da questão: nós sabemos o que precisamos fazer para batermos as metas? Se a resposta fosse não, deveríamos adotar a estratégia do Programa de Melhoria. Mas se a resposta fosse sim, era melhor adotarmos a abordagem tradicional de Gestão de Projetos.
Quais os riscos do bom senso?
Definidos os pontos, começa a discutir cada uma das metas e mais discussão deu-se à mesa. Na cabeça de uns, sabíamos como alcançar a meta, na de outros, apenas achávamos. Antes que começássemos mais uma discussão sem fim, um dos presentes perguntou: há como testarmos se a estratégia proposta por alguns é realmente conhecida? Ou a meta é fruto de um sistema complexo (economia, empresa, investimentos, desenvolvimento etc) que precisa ser melhorado?
Com essa pergunta, a teoria do “sabemos o que precisa ser feito” foi derrubada. E assim, todos concordaram em instituir o Programa de Melhoria, pois é a metodologia certa para alcançar objetivos complexos, que envolvem muitas variáveis. Ao final da reunião, tínhamos uma decisão tomada em bases sólidas, sem que ninguém do grupo saísse com a sensação de ter sido preterido ou vitorioso em seus argumentos “racionais”. Explicar o porquê da sua opinião alinhado todos os envolvidos, é um fator chave para uma reunião de trabalho produtiva.
Devemos lembrar, que enquanto defendemos bravamente nosso ponto de vista, em geral deixamos de questionar um ponto crucial sobre o qual se baseia nossa posição no diálogo: eu estou certo, você está errado. Essa simples suposição causa um sofrimento infinito. Os diálogos difíceis envolvem confrontar percepções, interpretações e valores. Não são sobre qual a melhor decisão, mas sobre os motivos que sua decisão está errada.
Sempre que nos pegarmos partindo para este caminho, segure-se. É preciso que se acalme. Respire e retome a consciência para discutir os argumentos lógicos e as percepções do seu colega para entender o porquê ele diz aquilo. Depois, procure argumentar em cima de pontos comuns dos seus caminhos e definam um critério comum para que a decisão seja tomada.
Aprendemos que a gestão não se faz por bom senso. É preciso ter metas, benchmarks e análises aprofundadas antes de pensar nas ações. O uso de ferramentas estatísticas que correlacionam os indicadores de desempenho e os da empresa tem nos ajudado a conhecer o perfil mais adequado à natureza do negócio e identificar as competências e capacitações necessárias.
Cuidado
O bom senso deve ser o bem mais abundante deste mundo, pois ninguém deseja ter mais do que o que já possui”. O ser humano tem uma tendência de achar que gerenciar uma organização é questão de bom senso: basta sentar na cadeira e começar a tomar decisões. No passado talvez isto bastasse. Hoje não dá mais. O segredo do método é que ele é o caminho detalhado para se tomar decisões na direção certa e que se perenizam pela estabilidade dos processos. O método tem que ser ensinado às pessoas não só por meio de aulas, mas também “pegando na mão e fazendo junto”.