Como fazer mais com menos: o que aprendi cortando o cabelo?
Melhoria de Processos

30 de novembro de 2016

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Como fazer mais com menos: o que aprendi cortando o cabelo?

Como fazer mais com menos?


Se eu perguntasse a você sobre como otimizar seus recursos, o que você faria? Qual seria sua resposta para esta pergunta dolorosa? Como fazer mais com menos, para responde-la, você terá de escolher novas formas de utilizar seus recursos, de modo que possa extrair mais. Ao fazer isto, irá necessitar de menos recursos. É fácil de entender, concordam? Mas, será que é simples conseguir?


A priori, para fazer mais com menos nós precisamos nos reeducar. Por que? Porque nosso cérebro é acostumado a fazer mais do mesmo. Se temos duas pessoas para executar nossos serviços administrativos e elas não estão dando conta, logo pensamos em contratar mais gente ou então, distribuir incentivos extrínsecos como bônus e comissões. Sabemos que o processo não está atendendo a necessidade do cliente, mas ao invés repensarmos como estamos utilizando os recursos, pedimos mais do mesmo. É isto que precisamos mudar, se quisermos alcançar resultados excelentes.


Para ilustrar este ponto, tomarei emprestado mais um caso de meu cabeleireiro. Lembram daquele sobre nivelar a demanda? Então, mais um caso da série “gestão e corte de cabelo”. Na última vez que fui lá, ele contou-me de uma aventura que ocorreu há 15 anos atrás, quando ele tinha seus 20 e poucos anos e muita vontade expandir seu salão.



Como fazer mais com menos num salão de cabeleireiros?


Tudo começou quando seu pequeno salão estava indo bem. Tinha conseguido uma boa carteira de clientes e, trabalhava junto com seu irmão e uma ajudante. Assim, tinha uma demanda estável e custos bem enxutos, o que possibilitou seu salão mostrar-se um negócio bastante interessante. Pensando nisso, um conhecido seu, na época, diretor de uma grande empresa, decidiu provoca-lo: por que não ampliar o salão? Por que não pegar o modelo de negócio que estava dando certo e turbina-lo? Foi o que fizeram.


Nosso cabeleireiro-empreendedor, então, decidiu começar a colocar a mão na massa. Alugou uma casa bem maior, comprou cadeiras novas, espelhos, equipamentos, enfim, toda a infraestrutura necessária para operar o novo salão. Além disto, precisava de equipe. E como conseguir? Saiu atrás e conseguiu 19 pessoas para embarcarem com ele no novo salão. Foram 19 contratações apenas, vendendo o projeto. Depois da equipe, ele mesmo lançou mão de suas habilidades como pintor e começou a fazer o acabamento no novo prédio, cujo aluguel custava na época R$ 3.500,00, sete vezes mais do que seu antigo salão.


Terminado a operação, seu salão começou a operar. Porém, logo veio a surpresa: seu sócio capital disse que não investiria, pois, o salão deveria se pagar. Como assim, perguntou nosso empreendedor? O investimento se pagará, mas não no primeiro mês – disse para seu investidor. Porém, foi interpelado com a questão: como fazer mais com menos? Como ele poderia fazer seu salão aumentar a geração de caixa para que conseguisse se pagar logo no primeiro mês?



Qual é o caminho para resultados rápidos?


E assim, ele começou a testar novas ideias, equipes, ações de marketing. Também, conseguiu ampliar o horário de funcionamento, começando as 08:00 e fechando as 22:00. Ele levou a operação ao máximo de utilização dos recursos, mas mesmo assim, sem o aporte seria impossível a manutenção do negócio. As dívidas em seu nome começavam a acumular e a pressão aumentava a cada dia. Sem as dívidas, o negócio já estava se pagando, o que era ótimo, mas como seu sócio tinha cancelado o investimento, ele não conseguiria continuar a operação caso não recebesse o aporte.


Foram três meses neste impasse. Três meses na busca de como fazer mais com menos e salvar o negócio de uma maneira heroica. Certamente, motivação não lhe faltava, mas a coisa continuou se complicando. Às vezes, a história real é um pouco diferente da história dos blogs e da mídia empreendedora. O Segredo, penso logo acontece, não se mostra verdadeiro na vida real. Portanto pessoal, prefiram as histórias reais do que as histórias “romanceadas”.


Findo os três meses, ele tomou a atitude mais complicada da sua vida até então: fechar o negócio. Imagine você ter que chegar para 19 pessoas do seu time e falar que acabou o sonho? Pessoas que pediram demissão de seus empregos para embarcar na aventura e três meses depois, serem informadas que precisariam ativar o plano B. E os fornecedores? Como acalmar os fornecedores ávidos por receberem? E como gerar caixa para pagar as dívidas? Como começar de novo?



Qual é a Realidade para se fazer mais com menos?


Para responder a isto, o empreendedor aplicou seu jeito de como fazer mais com menos nesta nova tarefa. Conseguiu negociar a devolução de boa parte das mercadorias, devolvendo e abrindo mão das parcelas pagas até então. Com a equipe, todos abriram mão da rescisão e o apoiaram, pois, a verdade nunca foi escondida. O locatário da casa, por sua vez, foi procurado e conseguiu aceitar a devolução sem o pagamento de multa. Enfim, o empreendedor foi falando com um a um, explicando tudo que acontecera e estudando estratégias de redução do dano causado.


O ponto culminante veio quando ele venceu sua moto, por R$ 1.200,00 e passou a se locomover com uma bicicleta. Todos seus custos foram cortados, mostrando a todos os envolvidos que a quebra do negócio não se deu por gestão temerária. É comum encontrarmos empresários “quebrados” ou insolventes cuja garagem ultrapassa um milhão de reais. Ele foi diferente e, na minha percepção, foi um dos fatores que o ajudou a ter sucesso.


Ao final, para pagar seus compromissos renegociados, voltou ao velho modelo. Trabalhando durante um ano e meio em seu antigo salão apenas para pagar suas dívidas. Passo a passo, aprendeu como reverter o duro lado do empreendedorismo. O lado em que não há espaço para palestras motivacionais e oba-oba. Só há espaço para o trabalho e para quem luta diariamente para entender a como fazer mais com menos. E assim acaba este interessante case que ouvi e, que espero seja inspirador para muita gente, principalmente num momento de crise que passamos.


E como começar a entender a questão: como fazer mais com menos? Eu sugiro nossos cursos EAD. Comece pelos gratuitos, para entender nosso modelo e o que esperar nos cursos pagos. Comece pelo White Belt, vá para o Lean, Criatividade, etc. Depois, vá para o Green Belt. Vale a pena. Em épocas duras como a que passamos, ter em mente maneiras para se fazer mais com menos, nos ajuda muito.


 
Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.