Como está a construção civil?
Voltamos ao tema análise de dados. Voltemos ao tema construção civil. Como será que está a indústria que puxou o país nos últimos anos? Recuperando? Vamos ver. Para isto, vamos começar por meio da avaliação da evolução do número de unidades ofertadas, vendidas e lançadas em São Paulo.
Figura 1: número de unidades ofertadas em São Paulo.
Olha que interessante o indicador da figura 1. O número de unidades ofertadas está bem alto em relação aos anos anteriores. A média de oferta de 2015 ultrapassa 27000, recorde absoluto nos últimos 11 anos. Parece que o desejo de vender tomou conta do mercado. E as vendas? Figura 2.
Figura 2: evolução do número de unidades vendidas em São Paulo.
Vendas despencando em 2015. Por mais que alguns jornais procurem gerar factoides falando que a hora de comprar é agora, pois a coisa vai melhorar e os preços aumentar, não é o que parece. As vendas estão na pior média os últimos 11 anos, correspondendo a 5% das unidades ofertadas.
Figura 3: evolução do número de unidades lançadas em São Paulo.
A figura 3 também mostra queda. O número de unidades lançadas está começando a cair, mas pelos outros dois indicadores, estimo que caia bem mais. Dilma que se cuide, pois o setor herói dos empregos parece que não poderá mais estimar este papel. E será que há alguma correlação entre o número de unidades ofertadas e a venda?
Figura 4: gráfico de dispersão entre média anual de unidades ofertadas e vendidas em São Paulo.
Robert Shiller já falava em seus estudos: quando o pânico começa no mercado imobiliário, a coisa se espalha. Em anos com mercado aquecido temos muitas vendas e poucas ofertas. Nos anos de mercado ruim, como o que estamos, às ofertas disparam. Isto acontece, pois as pessoas começam a perceber que se inicia uma queda nas vendas e desejam vender seus imóveis para aproveitar os preços altos que ainda existem. Porém, esta corrida para realizar o “lucro” provoca uma enxurrada de ofertas, o que puxa o preço para baixo. Quando os preços começam a cair, ninguém deseja se aventurar a comprar, pois pensa que o preço cairá ainda mais. Resultado: Figura 4.
E será que as pesquisas no Google pelo termo “apartamentos a venda” tem a ver com o volume de vendas ou de unidades ofertadas? Vamos ver.
Figura 5: evolução das buscas no Google pelo termo "apartamentos a venda" e o número de unidades vendidas.
Pela figura 5 não dá para ver uma correlação muito forte, mas dá para ver que a média de pesquisas anual mostra algumas tendências. 2010 foi um ano de baixa nas buscas e baixa nas vendas, já 2011 as buscas começaram a aumentar, mas o efeito só veio em 2012 nas vendas. Para analisar com mais detalhes, iremos coletar os dados de pesquisa mensal. Mas isto é será em nossos próximos posts. Para saber mais, Green Belt e Black Belt FM2S.
E a visão para o futuro da construção civil?
A cadeia produtiva da construção civil começa a dar sinais de recuperação. A expectativa dos principais agentes é de que o setor se consolide ainda em 2017, retomando total segurança nas áreas de vendas e de projetos concluídos. Contudo, a transformação do cenário será a passos largos e os profissionais devem ter cautela.
Uma análise recente da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) mostra que há expectativas positivas, mas com ressalvas. “Apesar da evolução no humor dos empresários, a realidade das vendas ainda aguarda melhoras”, afirma Walter Cover, presidente da associação.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou, no final de junho, que a desaceleração no setor da construção perdeu fôlego em junho. Segundo ela, “confirmando tendência de recuperação observada desde o início do ano”. A CNI e os jornais que divulgaram a notícia não se preocuparam em mostrar, entretanto, que essa “recuperação” se deu com base numa ainda maior precarização e terceirização da mão de obra. Segundo a CNI, o índice de evolução do nível de atividade da construção civil em junho foi de 41,2, enquanto em maio foi de 40,1. Quanto mais esse número se aproxima de 50, menor é a redução da atividade no setor. Em dezembro de 2015 esse índice foi de 33,3, o menor nível da série histórica, iniciada em 2009.
DURA REALIDADE - O Mato Grosso do Sul, por exemplo, é um dos poucos estados do país em que o setor da constru- ção tem registrado melhora na geração de emprego. De janeiro a maio deste ano o saldo foi positivo na construção de edifícios(+989), construção de rodovias e ferrovias (+536) e obras de terraplenagem (+231). Conforme apurou o Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Campo Grande, ao mesmo tempo que o setor registra crescimento, também vêm crescendo o número de “gatos”. Toda semana temos denúncias de falta de pagamento, de precarização, de empresa que vai embora e deixa os trabalhadores na mão. Também se multiplicam as greves nos locais de trabalho pela falta de pagamento e condições dignas. E também há muitos casos de terceirização atingindo quase a totalidade da obra, como é o caso da MRV.
RECUO - Para Claudio da Silva Gomes, presidente da Conticom, “este ‘iní- cio da retomada’ está diretamente ligado à piora nas condições de trabalho, que vai desde a falta de pagamento até a retirada de direitos. O que vemos por todo país é o aumento da inadimplência por parte das construtoras. Elas fazem parte de um dos setores que mais cresceram e ganharam dinheiro nos últimos anos no país e, agora, quando passamos por um período de instabilidade, descontam nos trabalhadores. Não dá para se enganar”.
PERDAS - A construção civil perdeu quase 500 mil postos de trabalho no último ano, com base em informações do Ministério do Trabalho e do Emprego. O IBGE aponta que existem hoje 11,6 milhões de pessoas desempregadas no país. De abril a junho, mais 497 mil trabalhadores perderam o emprego. Números apurados pelo Instituto apontam que a quantidade de empregados com carteira assinada recuou 4,5% em um ano, representando uma perda de 1,5 milhão de empregos formais. Enquanto houve crescimento anual de 3,9% na categoria “trabalhadores por conta própria”, o que inclui aqueles que, desempregados, recorrem a subempregos.
ARROCHO - O rendimento real do empregado caiu para R$ 1.972 no segundo trimestre deste ano, o que significa que os trabalhadores estão ganhando menos e que a massa de rendimento que temos hoje é a mesma de janeiro de 2013.