A indústria e seus desafios
Análise de dados

05 de outubro de 2015

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

A indústria e seus desafios

Quais são os desafios da indústria?


Gostaria de falar de alguns dos desafios da indústria Alguns me chamam de antigo, mas acho que a indústria é a força que move um país do subdesenvolvimento para o desenvolvimento sustentável. E, num ano de crise como o que enfrentamos, a indústria (além é claro da população) é um dos setores que mais sofre. Como objetivo deste artigo, gostaria de passar pelos principais indicadores deste setor que puxou os anos de milagre econômico.



Qual o Salário Real Médio (SRM) da indústria?


Como primeiro indicador, vamos para o Salário Real Médio - (SRM - FIESP). Este é um índice importante para verificarmos o quão bem as indústrias estão pagando, já corrigido pela inflação. Pagar bem seus trabalhadores é um dos grandes desafios da indústria. Este índice tem como base 100 o valor médio pago em 2006.


Desafios da indústria


Figura 1: evolução do salário real médio na indústria.


Pela figura 1 vemos que os salários na indústria subiram bastante, de 61 em 93 para o pico de 115 em 13. Foram 20 anos de crescimento salarial acelerado na indústria, mas o que isto remete? Será que a produtividade da indústria cresceu em mesma proporção? Ser produtivo também é um desafio da indústria. Na minha visão, a única maneira de crescer salários é por meio do aumento da produtividade.


Temos de fazer mais com menos, para que nossas equipes consigam usufruir de um rendimento maior (é isso que ensinamos pesado nos cursos de Green Belt e Black Belt que ministramos). É a redução no custo do processo que fomentará o aumento salarial. As três categorias de projetos de melhoria (redução de defeitos, redução de custo ou aumento do valor percebido pelo cliente) focam isto. E será que a indústria está conseguindo fazer isto? Se a resposta for sim, o índice calculado pela CNI que mede a evolução dos custos industriais de produção era para estar constante, pois o crescimento dos salários deve ser recompensando pelas demais reduções de custos. A figura 2 traz a evolução destes custos de 2006 até 2015.



Como estão os Custos Industriais?


Desafios da indústria


Figura 2: evolução dos custos industriais de produção.


Pela figura 2 não nos resta dúvidas que produzir no Brasil, de um modo geral, está ficando cada vez mais caro. Se as indústrias remanescentes não criarem programas, baseado em projetos de melhoria e disciplina financeira, sua perenidade está ameaçada. Execução militar dos projetos de melhoria e da gestão do orçamento são as duas primeiras ações quando somos contratados. Não há como participarmos da melhoria de uma empresa industrial se estes dois fatores não forem considerados na primeira visita.


Agora que vimos que os custos estão aumentando, a única maneira da indústria não estar pressionada era se seu faturamento estivesse aumentando. Como será que está o PIB da indústria? Vamos à figura 3.



Como está o PIB da indústria?


Desafios da indústria

Figura 3: evolução do PIB da manufatura no Brasil.



E os Desafios da indústria?


Pela figura 3 o PIB da indústria teve um segundo trimestre tão ruim como 2007 ou um pouco melhor que o terceiro de 2008, após o estouro da crise das hipotecas americanas. Porém, nesta época, os custos não estavam tão grandes como estão hoje e sendo assim, estamos num cenário de redução de faturamento e aumento de custos. Qualquer dona de casa, ou melhor, CFO do orçamento familiar sabe que este tipo de cenário só leva a um lugar: crise e crise brava.


Por último, vamos olhar a evolução dos custos tributários. Já que o governo parece cada vez mais convicto de que o aumento de tributo faz-se inevitável, vamos ver como anda o índice da CNI que mede este item.



Como estão os custos tributários?


Desafios da indústria


Figura 4: evolução dos custos tributários.


Após a queda dos custos tributários promovidas após a crise de 2008, parece que chegamos para um patamar pré-crise. Se o governo aumentar a carga tributária da indústria ainda mais, faz-se ainda mais complicada a situação. Com vendas em baixa e custos em alta, uma elevação na carga tributária é morte ao setor. Como sugestão, o governo deveria repetir a desoneração que ajudou a indústria a recuperar-se parcialmente na crise da crise de 2008, mas parece que dada à deterioração das contas públicas, não há maneiras para isto.


Diante deste cenário, começo a concordar com o economista e ex-ministro Bresser-Pereira. A desvalorização do câmbio atrelada aos programas de aumento de produtividade é a única saída para uma recuperação consistente da indústria. Parece-me ser o câmbio a única forma de corrigirmos a inflação de custos que a indústria sofreu nos últimos anos. Exportando manufaturados, o Brasil conseguiria corrigir seus preços de venda e sem aumentar vários dos seus custos. Isto é a aplicação dos conhecimentos que você adquire no Green Belt e Black Belt da FM2S.

Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.