O mercado do cacau no Brasil passa por um período de mudanças relevantes. A alta nos preços internacionais, aliada à demanda interna e à influência da Páscoa, gera um cenário onde cada elo da cadeia — do campo ao varejo — acompanha com atenção as oscilações do setor.
O país ganhou força entre os maiores produtores da América Latina, mas ainda enfrenta entraves como logística precária e baixa valorização do produtor. Ao mesmo tempo, cresce o interesse por chocolates de origem e marcas bean to bar. Neste blog, você vai entender os fatores que impactam o valor do cacau, o comportamento da demanda e o que esperar dos próximos ciclos.
Panorama atual do mercado de cacau no Brasil
A produção de cacau no Brasil tem raízes históricas na região Norte e no sul da Bahia. Nos últimos anos, houve uma descentralização da cultura, com destaque para estados como Pará, Rondônia e Espírito Santo, que passaram a disputar espaço no volume produzido e na qualidade da amêndoa.
Produção nacional
Segundo dados da CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) e da IBRAFE (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), o Brasil produziu mais de 200 mil toneladas de amêndoas secas em 2023. O Pará lidera a produção nacional, ultrapassando a Bahia, que enfrenta problemas como envelhecimento de lavouras e doenças como a vassoura-de-bruxa. A expansão em áreas como a Transamazônica mostra uma tendência de crescimento nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Quais os principais estados produtores
Além do Pará e da Bahia, Rondônia vem se consolidando como um novo polo produtivo, com foco em técnicas agroecológicas. No Sudeste, o Espírito Santo aposta em amêndoas de qualidade superior, voltadas ao mercado bean to bar. A diversidade de biomas onde o cacau é cultivado reforça a complexidade da cadeia, que exige soluções distintas conforme o território.
O papel da agricultura familiar na cadeia do cacau
Boa parte da produção nacional vem de pequenos produtores. Na região Amazônica, mais de 90% das plantações são conduzidas por famílias que utilizam sistemas agroflorestais. Essa característica não apenas fortalece a sustentabilidade da produção como também aproxima o setor de pautas como economia circular e geração de renda local.
O mercado do cacau no Brasil é impulsionado por uma cadeia produtiva fragmentada, onde a agricultura familiar tem papel estratégico. Essa estrutura, embora menos mecanizada, é vital para manter a diversidade genética do cacau e garantir a oferta de produtos diferenciados.
O valor do cacau e os fatores que influenciam o preço
A cotação do cacau bateu recordes em 2024. No mercado internacional, os contratos futuros superaram a marca de US$ 9.000 por tonelada em Nova York, pressionados pela escassez global. O cenário acendeu o alerta na indústria e impactou diretamente os preços pagos ao produtor no Brasil.
Por que o preço do cacau subiu em 2024?
O aumento está relacionado a uma conjunção de fatores climáticos, logísticos e geopolíticos. Na África Ocidental — responsável por cerca de 70% da produção mundial — secas prolongadas, doenças e envelhecimento das lavouras reduziram drasticamente a oferta. Além disso, gargalos logísticos e restrições à exportação agravaram o descompasso entre oferta e demanda.
Relação entre oferta global e volatilidade
O mercado do cacau é altamente sensível ao clima. Eventos como El Niño afetam diretamente a produtividade, criando flutuações intensas nos preços. Quando a produção africana recua, países como o Brasil ganham protagonismo, mas ainda não são suficientes para suprir a lacuna global.
Como o Brasil é impactado pelos preços internacionais
Mesmo sendo um produtor relevante, o Brasil ainda importa parte do cacau que consome. A oscilação nas bolsas internacionais, portanto, reflete não só no preço das amêndoas, mas também nos custos da indústria chocolateira. No varejo, os impactos já começam a ser sentidos, principalmente em períodos de alta demanda como a Páscoa.
Diferença entre cacau commodity e cacau fino
Enquanto o cacau commodity segue o mercado internacional, o cacau fino e de origem tem dinâmica própria. Seu valor é determinado por fatores como qualidade sensorial, rastreabilidade e certificações. No Brasil, esse nicho ainda é pequeno, mas cresce puxado por marcas artesanais que priorizam relação direta com o produtor.
O preço do cacau no Brasil está vinculado à instabilidade externa, mas o mercado de cacau fino mostra que é possível criar valor com produção local de qualidade. Essa segmentação abre oportunidades para cadeias mais curtas e menos vulneráveis às cotações globais.
A demanda por cacau no mercado interno
O consumo de cacau no Brasil tem apresentado mudanças importantes. Se antes a indústria liderava com folga, hoje há uma valorização crescente do chocolate artesanal, movida por consumidores mais atentos à origem e à qualidade do produto.
Quem consome mais: indústria ou mercado artesanal?
A indústria tradicional ainda domina, mas novos perfis de consumo começam a alterar essa lógica. Segundo dados da ABICAB (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), o setor industrial representa cerca de 90% do processamento de cacau no país. No entanto, o avanço de marcas bean to bar começa a impactar esse equilíbrio.
- A indústria utiliza cacau em larga escala, voltada a produtos com menor teor de amêndoa.
- O mercado artesanal prioriza qualidade sensorial e rastreabilidade, mesmo com volumes menores.
- Chocolaterias de pequeno porte investem em cacau de origem, com alto valor agregado.
Tendências de consumo de chocolate no Brasil
O brasileiro consome, em média, 2,5 kg de chocolate por ano — índice abaixo da média mundial, mas em expansão. Além disso, novas preferências estão em destaque:
- Crescimento de chocolates com maior percentual de cacau.
- Busca por rótulos com menor teor de açúcar e sem aditivos.
- Valorização de marcas com posicionamento sustentável e regional.
Essa mudança no perfil do consumidor pressiona a cadeia produtiva a investir em qualidade e rastreabilidade.
Crescimento do segmento bean to bar
Nos últimos cinco anos, o número de marcas bean to bar dobrou no Brasil. Esse movimento está ancorado na proximidade com o produtor e na autonomia sobre o processo produtivo — da amêndoa à barra.
- As marcas buscam amêndoas fermentadas com controle rigoroso de qualidade.
- O consumidor paga mais por um chocolate com origem conhecida e notas sensoriais apuradas.
- A cadeia curta favorece uma remuneração mais justa ao agricultor.
A demanda interna por cacau no Brasil está em transição: da escala industrial para nichos de qualidade, com ênfase em origem e valor agregado. Esse cenário abre espaço para novos modelos de negócio e incentiva práticas mais sustentáveis no campo.
Impacto da Páscoa no mercado do cacau
A Páscoa concentra cerca de 25% do faturamento anual da indústria de chocolate no Brasil. A antecipação da produção, o aumento da demanda por amêndoas e o comportamento do consumidor nesse período afetam toda a cadeia do cacau — do campo às gôndolas.
O ciclo sazonal da indústria do chocolate
A preparação para a Páscoa começa com meses de antecedência. Indústrias antecipam a compra de matéria-prima e intensificam a produção entre janeiro e março.
- A compra de amêndoas aumenta no último trimestre do ano anterior.
- A logística de distribuição é planejada para atingir o pico no início de abril.
- Marcas investem em lançamentos e embalagens exclusivas para o período.
Esse ciclo pressiona o mercado interno e interfere diretamente nos preços de curto prazo.
Como a Páscoa altera preços e demanda
A alta procura por chocolate eleva a demanda por cacau, o que muitas vezes resulta em valorização da amêndoa, especialmente a fermentada e de qualidade superior.
- Pequenos produtores conseguem negociar valores acima da média, desde que tenham regularidade na entrega.
- A indústria busca contratos antecipados para evitar oscilações bruscas.
- Chocolaterias artesanais enfrentam dificuldade para manter o preço final competitivo.
No varejo, o repasse de custos pode afetar o volume vendido, mas a data segue como principal gatilho de compra do setor.
A antecipação na compra de amêndoas pelas indústrias
Com o preço internacional em alta, a estratégia das empresas é garantir estoque antes do primeiro trimestre.
- Grandes indústrias compram de produtores locais e importadores com até seis meses de antecedência.
- Marcas bean to bar negociam diretamente com cooperativas ou propriedades específicas.
- A oferta limitada de cacau fino leva a disputas por lotes premiados ou com certificações sustentáveis.
A Páscoa intensifica a demanda por cacau no Brasil, alterando preços e antecipando negociações com produtores. O período confirma a importância da organização da cadeia e da previsibilidade na oferta.
O que esperar do mercado de cacau nos próximos anos
O cenário atual aponta para uma transição. A oferta global pressionada, aliada à mudança no comportamento do consumidor, cria espaço para uma nova dinâmica no setor cacaueiro.
Mudanças no perfil do consumidor e impacto no setor
As novas gerações valorizam origem, sustentabilidade e transparência. Isso altera os critérios de escolha do chocolate — e, por consequência, do cacau.
- O mercado premium cresce acima da média no Brasil.
- Há maior interesse por rótulos com percentual elevado de cacau.
- Marcas que contam a história do produtor se destacam nas prateleiras.
A importância do investimento em tecnologia e qualidade
Para atender a esse novo perfil de consumo, o setor precisa modernizar práticas no campo e na indústria. O uso de tecnologias para fermentação, rastreabilidade e controle de pragas é decisivo.
- Projetos de agrofloresta e cacau cabruca ganham relevância.
- Soluções digitais ajudam a garantir rastreabilidade e gestão da produção.
- A assistência técnica continua sendo um gargalo para pequenos produtores.
Expectativas para exportações e acordos comerciais
Com o mercado externo atento à escassez global, o Brasil tem chance de se firmar como fornecedor de cacau de qualidade.
- A exportação de cacau fino pode crescer, desde que haja padronização e regularidade.
- Acordos com Europa e América do Norte exigem certificações e controles rigorosos.
- Cooperação entre estados produtores e indústrias pode acelerar o ganho de escala.
O futuro do mercado de cacau no Brasil depende da capacidade de organização da cadeia, da valorização do produtor e da adoção de práticas que atendam a um consumidor mais exigente.
O mercado do cacau exige cada vez mais visão sobre toda a cadeia: da produção ao consumidor final.
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O mercado do cacau no Brasil está diante de um ponto de inflexão. A valorização internacional abre uma janela de oportunidade, mas os desafios internos seguem limitando o avanço do setor. Para que o país aproveite esse momento, será necessário mais do que boas safras: será preciso estrutura, previsibilidade e investimento em qualidade.
Enquanto isso, o consumo interno se transforma. O crescimento do chocolate de origem e a valorização de produtos com rastreabilidade mostram que há espaço para novos modelos, mais integrados, mais sustentáveis e mais transparentes. O produtor que conseguir se posicionar nesse novo cenário tende a ter resultados mais consistentes, mesmo diante da volatilidade global.
Seja no campo, na indústria ou na prateleira, o futuro do cacau passa pela capacidade de alinhar demanda e oferta com inteligência. E, principalmente, por reconhecer que valor não se mede só em tonelada, mas também em conexão com quem consome.
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