Para entender como funciona o Sistema Toyota de Produção, é necessário conhecer suas ferramentas e como aplicá-las.
Neste blog, você entenderá a ferramenta e conceito Jidoka, como ele foi criado e sua função, que é essencial, dentro do sistema de produção da Toyota.
O que é o sistema Jidoka?
Também conhecido como “automação com inteligência humana”, o Jidoka é um dos dois pilares fundamentais do TPS, sendo o outro o Just-in-time.
Ele fornece para máquinas e operadores a capacidade de detectar quando uma condição anormal ocorreu e imediatamente interromper o trabalho. Ou seja, o Jidoka está direta e intrinsecamente ligado à qualidade do processo produtivo, permitindo que homens e máquinas realizem um trabalho mais eficiente.
O Jidoka pode ser chamado de autonomização, pois consegue dar ao equipamento a habilidade de distinguir boas peças das defeituosas de modo autônomo, sem necessitar de um operador.
Isso elimina a necessidade dos operadores observarem continuamente as máquinas e, por sua vez, geraram grandes ganhos de produtividade, porque um operador pode lidar com várias máquinas, muitas vezes chamadas de multiprocessamento.
Como surgiu o sistema Jidoka?
Anteriormente aos dispositivos automáticos, os teares de tiras, os à terra e os de alta urdidura eram usados para tecer de forma manual. Em 1896, Sakichi Toyoda, fundador da Toyota Industries, inventou o primeiro tear autônomo do Japão chamado "Toyoda Power Loom".
Posteriormente, ele incorporou inúmeras invenções revolucionárias em seus teares, incluindo o dispositivo de parada automática de quebra de trama (que parava automaticamente o tear quando uma quebra de fio era detectada), o dispositivo de alimentação de urdidura e o trocador de transporte automático.
Em 1924, Sakichi inventou o primeiro tear automático do mundo, denominado "Tear Loom Toyoda Tipo-G" (com movimento de mudança de transporte sem parar) que poderia mudar os passeios sem interromper a operação.
O termo Toyota "jido" é aplicado a uma máquina com um dispositivo interno para fazer julgamentos, enquanto o termo japonês regular "jido" (automação) é simplesmente aplicado a uma máquina que se move por conta própria. Jidoka refere-se à "automação com toque humano", ao contrário de uma máquina que simplesmente se move sob o monitoramento e supervisão de um operador.
A venda da patente para essa invenção a uma usina do Reino Unido forneceu financiamento para a criação do novo negócio da família Toyoda, a Toyota. Mas os princípios que foram aplicados às máquinas com autonomia logo foram aplicados a todo o processo por Taiichi Ohno, engenheiro de produção da Toyota nas décadas de 1940 e 1950.
Quais são os princípios do Jidoka?
Os princípios do Jidoka podem ser divididos em alguns passos simples:
1. Detecção de anormalidades: A máquina ou o operador identifica um defeito ou irregularidade no processo.
2. Interrupção do processo: A produção é pausada imediatamente para evitar a continuidade de peças defeituosas.
3. Correção do problema: A equipe analisa a causa do problema e toma medidas para corrigi-lo.
4. Prevenção de reincidência: São implementadas ações para evitar que o problema ocorra novamente.
O jidoka é visível em quase todos os aspectos da fabricação quando você começa a examiná-lo. Trata-se de construir a qualidade em um processo ao invés de inspecioná-lo apenas ao final do processo, a inspeção ainda tem um lugar mesmo na Toyota, e apesar do que as pessoas pensam, ainda pode ser uma maneira poderosa de prevenir defeitos que chegam ao cliente.
Como funciona a linha de parada do Jidoka?
A linha de parada do Jidoka é uma sistema implementado não só nas fábricas da Toyota, mas também em outras indústrias que utilizam o Lean Manufacturing. Esse sistema é utilizado para garantir a qualidade na origem.
Esse sistema permite que máquinas ou operadores interrompam a produção sempre que um problema for detectado.
Em primeiro, o operador ou a máquina identifica uma anormalidade, como peças defeituosas, falhas mecânicas ou qualquer outro defeito no processo.
Após isso, o operador puxa o cordão ou aperta o botão Andon e isso ativa um sinal visual ou sonoro, alertando toda a equipe de que há um problema na linha. Caso seja um problema pequeno, o operador tenta resolver rapidamente, porém, caso seja algo mais sério, a linha é interrompida para análise.
Com a parada pelo Andon, a equipe se reúne para investigar o motivo do erro. Utilizando ferramentas como o 5 porquês ou Ishikawa para encontrar a causa-raiz.
Por fim, antes de retomar a produção, são implementadas ações corretivas e preventivas para evitar que o erro se repita.
Ou seja, o sistema de parada Jidoka, de forma resumida, funciona assim:
1. Detecção de um problema
2. Acionamento do Andon
3. Resolução do problema
4. Prevenção de reincidência
Como o Jidoka resolve problemas?
Hoje, muitas máquinas possuem sensores e sistemas automatizados que conseguem, de forma autônoma, identificar falhas e interromper produções. Isso não é algo distante da realidade, mas se tornou um senso comum no design industrial, pois a tecnologia é necessária e acessível. Contudo, o maior desafio não é mais identificar um problemas, mas sim tomar medidas eficazes para solucionar a causa-raiz.
Além de permitir que operadores e supervisores parem a produção ao detectar falhas, é fundamental treiná-los para que saibam como solucionar problemas de forma eficaz. Isso significa que usar ferramentas como o 5 Porquês, PDCA e Diagrama de Ishikawa são ótimos recursos para eliminar a causa raiz.
Depois de resolver o problema, é essencial atualizar os procedimentos e a documentação para evitar que ele ocorra novamente. Assim, as melhorias devem ser comunicadas para outros processos e produtos similares, garantindo a disseminação do aprendizado na organização.
Ou seja, o Jidoka não é apenas sobre detectar erros e para a linha de produção, mas sim sobre resolver problemas de forma organizada, evitar recorrências e aplicar a melhoria contínua nos processos.
Por que o Jidoka é um pilar muitas vezes esquecido?
Mesmo sendo um dos pilares fundamentais do Sistema Toyota de Produção (TPS), ao lado do Just-in-Time (JIT), o Jidoka é frequentemente negligenciado no Lean Manufacturing, onde o JIT recebe mais atenção. No entanto, o Jidoka é um dos princípios mais importantes para alcançar a verdadeira excelência operacional.
Ele se baseia no conceito de qualidade na fonte, garantindo que defeitos sejam identificados e corrigidos imediatamente. Nenhuma empresa pode prosperar sem excelente qualidade de produto e serviço, e o Jidoka é o caminho para garantir esse padrão, tornando a qualidade um elemento integrado ao processo produtivo.
Algumas razões para que esse pilar seja esquecido:
- Ênfase no Just-In-Time: outro pilar importante do Sistema de Produção Toyota, o objetivo do just-in-time é eliminar desperdícios, gerando resultados bastante visíveis e quantificáveis em comparação com o Jidoka. Isso pode levar ao foco no just-in-time em detrimento do Jidoka.
- Visão de curto prazo: muitas empresas, por terem uma visão de curto prazo, não veem o Jidoka como benéfico, uma vez que é preciso que haja a parada da produção para a correção de “pequenos problemas”, o que pode parecer uma perda de tempo. É importante ressaltar, porém, que a necessidade de parada diminui com o tempo de aplicação do Jidoka, resultando em uma economia geral no fim do processo.
- Complexidade da implementação: a implementação do Jidoka envolve diversas etapas, além de ser necessária uma mudança organizacional, com treinamento de funcionários e adaptação dos processos para que tudo funcione corretamente. Visto isso, algumas organizações podem ter dificuldade e resistência em implementar esse procedimento.
Como o Jidoka se conecta ao Lean Manufacturing?
Estando ao lado do JIT, Jidoka é um dos pilares fundamentais do Lean Manufacturing. Ele garante que qualidade e eficiência caminhem juntas, evitando desperdícios e reduzindo a necessidade de retrabalho.
Enquanto o Just-in-Time foca na eficiência do fluxo de produção, o Jidoka assegura que nenhum defeito seja propagado. Essa abordagem está diretamente ligada a diversos princípios Lean, criando sistemas de produção mais confiáveis e sustentáveis.
No Lean Manufacturing, um dos objetivos principais é garantir que os produtos estejam e sejam fabricados de forma correta desde o princípio. O Jidoka permite que as máquinas e operadores parem a produção sempre que perceberem um problemas, fazendo com que os defeitos sejam corrigidos imediatamente. Desse modo, evita-se que erros se espalhem.
Como no LM o objetivo é eliminar tudo o que não agrega valor ao cliente, incluindo o retrabalho, estoques excessivos e defeitos. O Jidoka auxilia nessa redução ao impedir que os produtos defeituosos avancem de matéria-prima, tempo e mão de obra, tornando os processos mais enxutos e eficientes.
No sistema Lean, os operadores não são apenas executores de tarefas, mas participam ativamente da melhoria contínua. O Jidoka dá a eles a autoridade para parar a produção ao identificar um problema, em vez de permitir que um defeito siga adiante. Esse empoderamento incentiva uma cultura de responsabilidade e aprendizado, garantindo que todos na organização contribuam para a excelência operacional.
O Lean Manufacturing incentiva a filosofia do Kaizen, ou seja, a busca por melhorias constantes nos processos. O Jidoka complementa esse princípio ao criar um ciclo de aprendizado contínuo. Cada vez que um problema é identificado e resolvido, a empresa ganha uma oportunidade de aprimorar seus processos. Além disso, as soluções implementadas são documentadas e compartilhadas para evitar a repetição dos mesmos erros.
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E o que podemos concluir do Jidoka?
Diferente do Just-in-Time, que se concentra na eficiência do fluxo de produção, o Jidoka foca na prevenção de falhas e na resolução de problemas na causa raiz. Isso evita retrabalho, reduz custos e fortalece a cultura de melhoria contínua (Kaizen) dentro das organizações.
Apesar de ser frequentemente esquecido em algumas implementações do Lean, o Jidoka é essencial para garantir um sistema produtivo sustentável e confiável. Quando combinado com o Just-in-Time, ele permite que as empresas alcancem um equilíbrio entre eficiência e qualidade, resultando em processos mais ágeis, enxutos e resilientes.
Portanto, o Jidoka não deve ser visto apenas como um mecanismo de parada, mas como um instrumento estratégico para o desenvolvimento de produtos e serviços sem defeitos, consolidando a excelência operacional nas organizações.