O Minimalismo Digital ganha volume justamente quando passamos a maior parte dos nossos dias conectados a telas, impedidos de sair de casa. Embora o movimento já tenha mais de dez anos, recentemente seus adeptos se multiplicaram na busca de um estilo de vida mais autêntico. Vamos conhecer um pouco mais sobre o que é o Minimalismo Digital e se ele faz sentido para a sua vida.
O que é Minimalismo Digital?
O Minimalismo Digital é um movimento de busca do essencial no uso de aparelhos sociotécnicos. Esse movimento tem suas origens no Movimento Minimalista das artes, que surge entre as décadas de 60 e 70, buscando, com a mínima aplicação de cores, formas e palavras, transmitir a mensagem e a emoção de suas obras de arte. Era uma busca pelo essencial, que é basicamente o objetivo do Minimalismo Digital hoje. Por essência, os minimalistas entendem tudo aquilo que tem uma razão consciente de ser. Assim, se você opta por ter uma casa ou viver em um motorhome – ou mesmo viver pedindo para passar uma noite na varanda da casa alheia – todas são opções válidas se você as toma conscientemente. A partir do momento que existe uma razão pela qual você está consciente, você pode fazer.
Minimalismo X Minimalismo Digital
Ambos os movimentos visam a liberdade do indivíduo pela diminuição das suas dependências. A grande diferença é que, enquanto o minimalismo tradicional – aquele surgido em Nova York e que inspirou movimentos artísticos em um contexto de guerra fria – pregava que éramos dependentes de objetos materiais, o minimalismo digital aponta que somos dependentes (hoje) de estímulos sensoriais.
O desprendimento do minimalismo
Durante o auge do minimalismo, o forte desprendimento material era algo comum – uma cena que exemplifica bem o movimento é exibida no final do filme “Sim, Senhor”, com Jim Carrey, quando o personagem pede a uma multidão que se desfaça de suas roupas: e eles vão, nus, para a próxima reunião. A intenção era demonstrar que o consumismo desenfreado era algo que mais aprisionava e tolhia as decisões do que lhes dava liberdade. Esse discurso incentivou movimentos artísticos e do design, reforçando a expressão “menos é mais”.
O medo do Minimalismo Digital
Já o Minimalismo Digital enxerga a atualidade com outros olhos. Hoje não é mais o excesso de objetos que limita a liberdade de escolha das pessoas, mas o excesso de estímulos. E neste ponto não estão distantes de pesquisas científicas mais recentes na área. No meio de rostos aperfeiçoados por filtros, é provável sentir a autoestima baixa. Entre tantos posts de aprovação em processos seletivos, é normal se sentir aquém. Os minimalistas digitais olham para o excesso de informações e estímulos e optam, conscientemente, por reduzi-los.
Porque praticar o Minimalismo Digital?
O excesso de estímulos que os minimalistas digitais evitam não é algo novo, mas amplamente documentado em pesquisa científica. Em artigo para a Psychologic Behaviour, um estudo demonstrou que a mera consciência de que havia um celular nas proximidades – mesmo que no silencioso, virado para baixo e com a tela bloqueada – causava movimentos involuntários em boa parte dos participantes em busca do conteúdo. Já os fenômenos FOMO (Fear of Missing Out – medo de ficar de fora) e FOBO (Fear of Better Option – medo de não escolher a melhor opção) apresentam uma crescente influência em acidentes de trânsito – tanto da parte dos motoristas quanto dos pedestres. No mercado de trabalho o excesso de estímulos diminui a concentração, tira o foco das atividades essenciais e desconfigura as prioridades de cada um.
Como ser adepto do Minimalismo Digital?
Diante desses exemplos é natural se sentir interessado em aderir ao movimento. Parando para pensar, talvez não sejam necessários tantos arquivos na área de trabalho do meu computador – e será que eu realmente ligo para esse tanto de gente que eu sigo no Instagram? Mas antes de você começar a se ilhar virtualmente, vamos te passar algumas dicas de como fazê-lo da melhor maneira.
Eu preciso disso?
Joshua Fields e Ryan Nicodemus são duas grandes referências para o movimento Minimalista Digital. Embora sejam adeptos do minimalismo em todas as instâncias, são moderados na hora de “limitar” o que ter, e sempre começam pela pergunta: eu preciso disso? Assim, se você segue trezentas celebridades no seu Instagram, chega um ponto em que você pode se perguntar: eu realmente me interesso por todas essas pessoas? Será que eu não deixei de ver uma foto de um amigo que eu realmente gosto? Vale a pena eu seguir 20 jornais diferentes, se eu não consigo passar do título de nenhuma matéria?
Isso me acrescenta em algo?
Então, essa é a pergunta mais próxima de outro guru do minimalismo digital, Dr. Cal Newport. O professor de computação e autor de livros de autogestão afirma que nunca teve um perfil em rede social porque eles nunca forneceram uma resposta afirmativa a essa pergunta. E segue convicto em suas opiniões. A maior parte de sua produção é focada em concentração no trabalho, com livros como “Minimalismo Digital” e “Trabalho Focado” ilustrando o que acha das coisas que podem tirar o seu foco – as primeiras a serem descartadas.
Há uma maneira melhor de fazer isso?
Portanto, é necessário abrir a caixa de e-mail, verificar a caixa de mensagens do WhatsApp e do LinkedIn a cada 15 minutos? Ou há tarefas que demandam mais atenção da sua parte e nas quais você deveria focar? Quando o tempo gasto nessas atividades acaba na ponta do lápis, percebemos que seria bem mais otimizado concentrar os primeiros e últimos 30 min do expediente para responder mensagens do que interromper todas as outras atividades do dia a dia.
Como ter uma rotina mais eficiente?
Você não precisa seguir à risca uma filosofia, mas existem aspectos que podem favorecer o seu trabalho. Dentre as dicas e conselhos dados pelos adeptos do Minimalismo Digital, separamos alguns que podem impulsionar a sua produtividade e te render frutos na sua área.
Concentração de funções
Já comentamos em outros textos sobre softwares úteis para o gerenciamento de um time. Agora pergunto: você tem certeza que usa todas as funcionalidades do software? Porque se o mesmo programa oferece a chance de atribuir funções a membros do time, estipular datas, vincular documentos e realizar alterações e comentários, não sobra muito mais o que fazer, correto?
Disciplina de consumo
Hoje é o “assista com moderação” que deveria vir ao final dos comerciais. Enquanto ninguém cobrar isso das big techs (embora já tenham começado a cobrar), vale a pena você se desligar dos equipamentos eletrônicos cerca de meia hora antes de dormir e depois de acordar. Leia um livro ou medite nesse meio tempo. As melhoras no sono serão restauradoras.
Faça uma curadoria de conteúdo
Não consuma de tudo. A “infodemia” é a irmã gêmea da pandemia que te sufoca com tanta informação que você não sabe mais dizer o que é verdade do que é fake News. Então faça um pente-fino nas fontes que você segue – limite-se aquelas que você efetivamente lê além do título – e dê unfollow em todo o resto. Ao mesmo tempo, antes de acrescentar uma nova a sua lista de confiança, confira se ela realmente tem os mesmos valores que você.