Você já se deparou com um problema que continua voltando, mesmo depois de várias tentativas de correção? Nesses casos, agir apenas sobre os sintomas não resolve. É preciso entender o que realmente causou o desvio. É aí que entra a análise de causa raiz.
Essa abordagem permite investigar com profundidade as falhas que afetam processos, produtos ou resultados. O objetivo é simples: identificar a origem do problema, eliminar a repetição e aumentar a confiabilidade das operações.
Neste conteúdo, você vai entender o que é a análise de causa raiz, quando aplicá-la e como conduzir esse processo de forma estruturada. Também verá exemplos práticos e ferramentas que ajudam a encontrar soluções mais eficazes.
O que é análise de causa raiz?
A análise de causa raiz é uma abordagem sistemática usada para descobrir a origem real de um problema. Seu objetivo é identificar o fator que, se eliminado, impediria a recorrência da falha. Ao contrário de ações corretivas imediatas, que tratam apenas os efeitos, essa análise atua sobre o que realmente gera o desvio.
Esse tipo de investigação é aplicada quando há um sintoma visível, como retrabalho, reclamações ou falhas operacionais, e é preciso entender o que está por trás disso. Ou seja, ela busca responder à pergunta: “Por que isso aconteceu?”
O processo não é apenas técnico. Também envolve interpretação de dados, escuta ativa da equipe envolvida e análise de processos. As decisões não podem ser baseadas apenas em opiniões ou suposições. É por isso que a análise de causa raiz é orientada por evidências.
Essa prática está presente em metodologias de melhoria contínua, como Lean, Six Sigma e PDCA. Também é exigida por normas como a ISO 9001, especialmente em contextos de não conformidade.
Ao aplicar a análise de causa raiz, a empresa passa a tratar o problema na sua origem, reduzindo desperdícios, prevenindo falhas e fortalecendo a confiabilidade dos processos. A consequência direta é a melhoria de resultados com menos esforço corretivo no longo prazo.
Quando aplicar a análise de causa raiz?
A análise de causa raiz deve ser aplicada sempre que houver necessidade de entender um problema de forma definitiva. Isso ocorre quando as ações corretivas não resolvem de forma permanente, ou quando o impacto da falha compromete a qualidade, segurança ou eficiência dos processos.
Ela é indicada em três cenários principais:
1. Problemas recorrentes
Falhas que se repetem indicam que a origem não foi tratada corretamente. Apenas corrigir o efeito, como reenviar um pedido com erro ou trocar um componente defeituoso, não impede que o mesmo erro aconteça novamente. Nesse caso, é necessário investigar mais a fundo.
Exemplo:
Uma máquina que para semanalmente, mesmo após manutenção, pode ter causas estruturais não tratadas.
2. Impacto crítico no processo ou no cliente
Quando um problema afeta o cliente final, a conformidade com normas ou a segurança da operação, não basta uma solução paliativa. A análise de causa raiz permite identificar e neutralizar o fator que gerou o erro antes que ele aconteça de novo.
Exemplo:
Um erro em um processo de calibração que compromete a qualidade de um lote de produção exige mais do que apenas o descarte do produto.
3. Não conformidades em auditorias ou indicadores fora do padrão
Falhas detectadas em auditorias (internas ou externas) devem ser tratadas com profundidade. Isso também vale quando indicadores de desempenho (KPIs) apresentam desvios persistentes sem causa evidente.
Exemplo:
Aumento repentino na taxa de devolução de produtos ou queda no índice de satisfação do cliente.
Aplicar a análise de causa raiz nesses momentos reduz o risco de retrabalho, evita desperdícios e melhora o desempenho dos processos. O foco deixa de ser apagar incêndios e passa a ser evitar que eles ocorram.
Investigar a origem do problema é uma prática que transforma a gestão de processos, trazendo estabilidade, confiabilidade e economia.
Passo a passo para conduzir a análise
Para que a análise de causa raiz gere resultados consistentes, é necessário seguir um processo estruturado. A clareza na condução evita interpretações subjetivas e garante que a causa verdadeira seja identificada com base em dados, não em suposições.
1. Definir claramente o problema
Tudo começa com a definição objetiva do que está acontecendo. Um erro comum é iniciar a análise com percepções vagas ou genéricas, como “produto ruim” ou “cliente insatisfeito”. Isso não ajuda a entender o desvio.
O problema precisa ser descrito com base em fatos observáveis, contendo:
- O que ocorreu
- Quando ocorreu
- Onde ocorreu
- Qual foi a consequência
2. Coletar dados e evidências
Uma boa análise depende da qualidade das informações. Nessa etapa, o time deve reunir todos os dados relacionados ao problema:
- Registros de produção ou serviços
- Laudos técnicos
- Fotos, vídeos ou amostras do defeito
- Relatos de operadores e clientes
- Informações sobre mudanças recentes nos processos
Evite tomar decisões com base apenas na memória ou em opiniões. Quanto mais evidências forem coletadas, mais consistente será a identificação da causa raiz.
3. Levantar causas potenciais
Com o problema bem definido e os dados em mãos, é hora de levantar hipóteses. Essa fase exige envolvimento de pessoas com conhecimento sobre o processo. Ferramentas úteis para isso:
- Espinha de Peixe (Diagrama de Ishikawa): classifica causas por categorias como máquina, método, material, mão de obra, meio ambiente e medição.
- 5 Porquês: técnica que busca aprofundar a causa fazendo uma sequência de perguntas do tipo “Por que isso ocorreu?”
O objetivo é gerar uma lista ampla de possibilidades. Ainda não é hora de julgar ou descartar nenhuma causa.
4. Identificar a causa raiz
Agora, é preciso avaliar qual das causas levantadas está diretamente ligada à origem do problema. Uma boa pergunta para testar isso é:
“Se essa causa for eliminada, o problema ainda pode ocorrer?”
Use os dados coletados para verificar a consistência das hipóteses. Busque correlação entre o que foi levantado e o que de fato aconteceu. Quando possível, aplique testes ou simulações para validar a relação entre a causa e o efeito.
Se houver múltiplas causas relevantes, priorize pela influência no resultado ou frequência.
5. Propor ações corretivas
Com a causa raiz identificada, o próximo passo é desenvolver uma ação que a elimine ou a controle. A solução deve ser prática, aplicável e sustentável.
Alguns critérios a considerar:
- Quem será o responsável pela ação
- Quando será implementada
- Como será verificada a eficácia
A ferramenta 5W2H pode ser usada para organizar esse plano de ação com clareza (O quê, Por quê, Onde, Quando, Quem, Como e Quanto).
Após a implementação, é essencial monitorar os resultados. Se o problema não se repetir, a ação foi eficaz. Caso contrário, é necessário revisar a análise.
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O curso gratuito White Belt da FM2S apresenta as ferramentas mais usadas na resolução de problemas, como Diagrama de Ishikawa e 5 Porquês. É o primeiro passo para quem busca processos mais eficientes e decisões baseadas em dados.

Benefícios da análise causa raiz
- Identificação das Causas Reais: a análise de causa raiz vai além de tratar apenas os sintomas visíveis de um problema. Ela se concentra em descobrir as causas subjacentes, permitindo que a organização entenda verdadeiramente o que levou à ocorrência do problema. Isso resulta em soluções que atacam o cerne do problema, garantindo que ele seja resolvido de forma mais duradoura e eficaz.
- Prevenção de Problemas Futuros: um dos principais benefícios da RCA é a sua capacidade de prevenir problemas semelhantes no futuro. Ao identificar e corrigir as causas raízes, a organização pode implementar medidas corretivas que evitam a recorrência do mesmo problema. Isso promove uma abordagem proativa, focada na prevenção sistemática de falhas futuras.
- Melhoria Contínua: a RCA também contribui significativamente para a melhoria contínua dos processos e sistemas dentro de uma organização. Ao identificar falhas e suas causas, a organização tem a oportunidade de fazer ajustes que não apenas resolvem o problema atual, mas também melhoram a eficiência e a eficácia operacional em longo prazo.
- Aumento da Eficácia das Soluções: ao entender completamente o problema e suas causas, as medidas corretivas desenvolvidas a partir da RCA são mais precisas e eficazes. Isso reduz a necessidade de enfrentar os mesmos problemas repetidamente, economizando tempo e recursos, e aumentando a eficácia das soluções implementadas.
- Promoção de uma Cultura de Aprendizado: a RCA facilita o aprendizado a partir de problemas anteriores, ajudando a organização a aplicar esses conhecimentos em situações futuras. Isso não só impulsiona melhorias contínuas, mas também promove uma cultura organizacional que valoriza o aprendizado e o aperfeiçoamento constante, repetindo sucessos e minimizando falhas.
Exemplo: análise de causa raiz
A fim de entender melhor esse processo de análise vamos pensar na seguinte situação: você acorda para ir trabalhar e ao acionar a partida o carro não liga. Dessa forma, utilizando a abordagem acima, teríamos:
- Definição do problema: o carro não funciona;
- Levantamento das possíveis causas: bateria descarregada, falta de combustível, motor de partida;
- Classificação das possíveis causas em causas reais: a bateria não está descarregada, pois as luzes do painel e farol se acendem. Da mesma forma, o tanque de combustível está cheio, logo o problema é o motor de partida;
- Identificação das possíveis soluções para o problema: consertar o problema do motor de partida ou trocá-lo;
- Escolha e implementação da solução: como o concerto sairá mais da metade do valor de um motor de partida novo, opta-se por trocar a peça;
- Análise de resultados: o carro voltou a funcionar, logo a solução proposta resolveu o problema.
Legal, não é mesmo? Agora imagine se existissem ferramentas que fizessem todo esse processo de uma forma mais clara, simples e interativa do que realizar essa lista que fizemos acima. Pois bem, vamos te apresentar agora as principais ferramentas de análise de causa raiz para você aplicá-las no seu dia a dia. Vamos conferir?
Ferramentas utilizadas na análise de causa raiz
A eficácia de uma análise de causa raiz depende da escolha e uso correto das ferramentas de apoio. Elas ajudam a organizar informações, levantar hipóteses de forma sistemática e facilitar a identificação da origem do problema.
Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe)
O diagrama de Ishikawa é uma das ferramentas mais tradicionais. Classifica possíveis causas de um problema em categorias visuais como:
- Método
- Máquina
- Material
- Mão de obra
- Meio ambiente
- Medição
Cada categoria é ramificada com causas secundárias. Isso permite visualizar como diferentes fatores podem contribuir para o problema central.
Vantagem: Facilita discussões em grupo e ajuda a não deixar causas importantes de fora.
5 Porquês
Consiste em questionar sucessivamente a causa de um problema com a pergunta “Por quê?”. A sequência continua até que se chegue a uma causa que não dependa de outro fator.
Exemplo:
- Por que o produto saiu com defeito?
Porque a temperatura da máquina estava errada.
- Por que a temperatura estava errada?
Porque o sensor não estava calibrado.
- Por que o sensor não foi calibrado?...
(E assim por diante)
Vantagem: Simples de aplicar e ideal para causas diretas e processos operacionais.
Diagrama de Árvore
Estrutura a análise em forma de árvore, com ramificações que partem do problema até chegar às causas mais profundas. Cada nível da árvore representa um grau maior de detalhe.
Vantagem:
Útil para problemas complexos, que envolvem múltiplas áreas ou processos interdependentes.
FMEA (Análise de Modo e Efeito de Falha)
A análise de modo e efeito de falha é uma ferramenta mais técnica, usada para prever possíveis falhas em um processo, identificar suas causas e avaliar o risco associado com base em três critérios:
- Severidade (impacto)
- Ocorrência (frequência)
- Detecção (probabilidade de perceber antes que ocorra)
Vantagem: Ajuda a priorizar causas com maior risco e aplicar ações preventivas.
5W2H
Embora não sirva para identificar a causa raiz, o 5W2H é fundamental na etapa de ação corretiva. Ele organiza o plano de resposta de forma clara:
- O quê será feito
- Por que será feito
- Onde, quando, quem fará
- Como será executado
- Quanto custará
Vantagem: Transforma a análise em um plano de ação direto e rastreável.
A escolha da ferramenta depende do tipo de problema, da complexidade e do tempo disponível para análise. Em muitos casos, a combinação entre elas gera melhores resultados, como iniciar com o Diagrama de Ishikawa e depois aplicar os 5 Porquês em cada ramificação crítica.
Quais são as vantagens da Análise de Causa Raiz?
Agora que você já sabe o que é e como fazer a Análise de Causa Raiz, você deve estar se perguntando, por que fazer? Há alguma vantagem?
Sim, ela é uma ferramenta essencial para diversas áreas como qualidade, saúde e segurança, engenharia, TI, entre outras. Quer entender por que essas áreas usam a Análise de Causa Raiz? Veja as vantagens:
- Prevenção de recorrências: ao eliminar a causa raiz de um problema, você pode evitar que ele se repita no futuro. Isso contribui para a melhoria contínua e a redução de falhas, retrabalho e custos adicionais.
- Eficiência operacional: ao resolver as causas raiz dos problemas, é possível melhorar a eficiência dos processos e operações. Isso pode levar a uma maior produtividade, menor desperdício de recursos e melhoria dos resultados globais.
- Tomada de decisões embasada: a análise de causa raiz fornece informações valiosas para embasar decisões estratégicas. Compreender as causas raiz dos problemas permite tomar medidas corretivas mais direcionadas e implementar melhorias de longo prazo.
- Melhoria da qualidade: ao eliminar as causas raiz dos problemas, é possível melhorar a qualidade dos produtos ou serviços oferecidos. Isso pode levar a um aumento da satisfação do cliente, maior confiança na marca e ganho de vantagem competitiva.
- Aprendizado organizacional: a análise de causa raiz promove um ambiente de aprendizado contínuo dentro da organização. Ao investigar as causas raiz dos problemas, as equipes podem adquirir conhecimentos valiosos, compartilhar lições aprendidas e aplicar esse conhecimento para evitar problemas semelhantes no futuro.