O que é o endividamento das famílias?
O Banco Central (BC) mudou a metodologia para calcular o endividamento e o comprometimento da renda das famílias com dívidas junto ao sistema financeiro em 2011. Nos dois casos, a revisão na forma de calcular diminui os índices.
A revisão, divulgada no "Relatório do Sistema Financeiro" nesta terça-feira, serve para alinhar o índice brasileiro aos de outros países e refletir com maior exatidão a situação da inadimplência pelas famílias, de acordo com o BC.
No cálculo, a autoridade supervisora passa a considerar que as prestações das dívidas são constantes ao longo do contrato, com amortizações crescentes e pagamentos de juros decrescentes (conhecido como sistema Price). Na metodologia antiga eram considerados os valores referentes à primeira prestação de um financiamento contratado, segundo as regras do sistema de amortizações constantes (SAC). Segundo o BC, o último sistema "superestima o resultado, imputando-lhe o custo mais elevado de juros para todo o empréstimo, ao invés do custo médio".
Como a carteira de crédito afeta o endividamento das famílias?
Houve também alteração na forma como é utilizada a taxa de juros da carteira de crédito. Foi adotada a média das taxas de juros do período equivalente ao respectivo prazo médio da modalidade em vez da taxa de juros do mês corrente.
Só permaneceram as taxas correntes para cheque especial e cartão de crédito. Para essas modalidades passou-se a considerar também a amortização do pagamento principal. Para o cartão de crédito foi estipulado prazo de amortização de 6,7 meses, considerando a exigência de pagamento mínimo de 15%. Em relação ao cheque especial - que não exige pagamentos mínimos como o cartão de crédito - o BC estipulou, "na ausência de parâmetros mais precisos", prazo médio de 19 meses.
Do lado da renda, a nova metodologia incorpora à massa salarial ampliada disponível (MSAD) os rendimentos recebidos por pessoas físicas em aplicações financeiras. O índice, que antes contemplava apenas os rendimentos do trabalho e benefícios previdenciários descontando os impostos, abrange, a partir de agora, os ganhos em cadernetas de poupança, Certificados de Depósito Bancário (CDB), títulos públicos e fundos de investimento. Para reduzir o efeito das oscilações sazonais da série, como o recebimento do 13º salário, a nova metodologia não leva em conta a massa salarial dos últimos 12 meses, mas a do mês de referência.
Como está o endividamento das famílias?
Endividamento das famílias: para terminar a semana vai um post rápido, mostrando a evolução do endividamento das famílias brasileiras. Coletei os dados no Banco Central de duas séries histórias:
- 19882 - Endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em relação à renda acumulada dos últimos doze meses - %
- 20400 - Endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional exceto crédito habitacional em relação à renda acumulada dos últimos doze meses - %
Este indicador é interessante, pois mede o grau de endividamento das famílias em relação a sua renda acumulada. Este percentual só poderia subir em duas ocasiões: ou a renda das famílias está caindo ou o endividamento aumentando. Como é de praxe em nossas análises, fiz 3 gráficos. Vamos aos gráficos:
Figura 1: evolução do endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em relação à renda acumulada dos últimos doze meses e endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional exceto crédito habitacional em relação à renda acumulada dos últimos doze meses, ambos em %.
Figura 2: evolução da variação mensal do endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em relação à renda acumulada dos últimos doze meses.
Figura 3: evolução da variação mensal do endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional exceto crédito habitacional em relação à renda acumulada dos últimos doze meses.
O Endividamento das famílias está subindo?
Pela figura 1 já fica claro que o crescimento do endividamento das famílias brasileiras está crescendo, principalmente o endividamento imobiliário. Quando tiramos o setor habitação do gráfico, o endividamento dá um claro sinal de estar estabilização em 30%. O mesmo fato pode ser observado na figura 2 e 3 em que analisando a variação mensal no endividamento.
Por este gráfico é possível verificarmos que as famílias só estão aumentando seu endividamento para adquirem um imóvel. Parece-me que as famílias não estão querendo contrair mais dívidas ou os bancos estão sendo mais criteriosos na concessão de mais crédito, não deixando as famílias se endividarem mais que os 30%.
Isto por um lado é bom, pois mostra que uma possível crise de calote dificilmente irá acontecer, mas por outro lado, o crescimento da economia puxado por este aumento no endividamento das famílias está chegando ao fim. Assim, as perspectivas para o crescimento econômico nos próximos anos não são as melhores.
Vamos ficar de olho no que vai acontecer, mas por estes dados para crescer mais o Brasil precisará de mudanças que não sejam mais do mesmo. Se a produtividade do país não aumentar, as únicas mudanças possíveis serão o perigoso aumento do endividamento a ser realizado por meio dos bancos públicos. Se isto acontecer, melhor abrirmos o olho.
Sendo um Green Belt ou Black Belt da FM2S, você não é enrolado pelos jornais.