SCEM: Como tornar previsível a cadeia de suprimentos
Análise de dados

07 de setembro de 2016

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

SCEM: Como tornar previsível a cadeia de suprimentos

O que é SCEM?


Com o crescimento das organizações, têm surgido cada vez mais companhias que atuam em várias localidades, necessitando de uma complexa cadeia de suprimentos para garantir tanto a obtenção de insumos e matérias-primas quanto a entrega final de seus produtos e serviços.


Em uma cadeia de suprimentos típica de uma companhia global - por exemplo uma grande fabricante de equipamentos eletrônicos - um produto, após a sua fabricação, será levado da fábrica para o porto, do porto para o país de destino, passará pelos procedimentos de alfândega, será levado a um centro de distribuição, em seguida a um armazém, e assim sucessivamente, até chegar ao consumidor final. Ou seja, o produto passa por várias etapas, e cada etapa possui um nível de incerteza associado a ela.


Uma característica das cadeias de suprimento que são responsáveis pela logística em escala global é que, muitas vezes, o nível de incerteza sobre a situação real em que se encontra o produto é maior durante o período em que o produto está em trânsito, passando de uma etapa a outra, aumentando a variação nos tempos. Não por acaso, etapas de embarque, consolidação e desembaraço aduaneiro (procedimentos na alfândega) contribuem significativamente para gerar atraso na entrega e aumentar a variabilidade do lead time logístico, constituindo um grande problema para organizações globais. Um exemplo clássico e cotidiano é encomendar um produto na Amazon, vindo dos Estados Unidos, e a entrega demorar muito mais que o esperado por problemas na alfândega.



Como usar o SCEM?


A solução mais comum, porém ineficiente e com vários custos extras e desperdícios envolvidos, é aumentar o volume de estoque como forma de se proteger da variabilidade do lead time. Porém, um método que tem emergido é um que se baseia em aumentar a visibilidade interna da cadeia, aumentando a sua previsibilidade, é a chamada Gestão de Eventos da Cadeia de Suprimentos (SCEM, supply chain event management).


O SCEM consiste em uma sequência de atividades planejadas para a cadeia de suprimentos e a comunicação de qualquer divergência deste plano. Idealmente, o SCEM permite uma resposta proativa e possivelmente automática às divergências do plano de gestão da cadeia de suprimentos.



Como funciona o SCEM?


O SCEM é precedido da decisão de quais pontos críticos da cadeia de suprimentos devem ser constantemente monitorados, e quais indicadores (KPIs) serão medidos e como serão medidos. Para cada KPI, é definido um limite inferior e um limite superior de tolerância, e a empresa programa um alarme interno - por exemplo, um plano de contingência  - para a situação de o KPI aferido estar fora dos limites de tolerância.


Atenção: o limite de tolerância representa a voz do cliente, e não a voz do processo, que consiste na sua variabilidade natural. Assim, um processo cuja variabilidade seja fora destas especificações (ou seja, um processo que não é capaz) acionará constantemente estes alarmes, pois é da sua natureza produzir valores fora do intervalo. É essencial, então, que antes de se aplicar o SCEM, a variabilidade seja controlada, e esteja dentro da especificação.


Após definidos os pontos de medição, a empresa programa o SCEM para acompanhar a evolução do plano real da cadeia de suprimentos, e o gerente deve ser treinado sobre como agir em caso de um alarme disparado. A internet constitui, portanto, um recurso essencial ao SCEM, por permitir o monitoramento remoto de vários pontos e entidades da cadeia, mesmo que estes estejam geograficamente dispersos, bem como permite a conexão e comunicação em tempo real. O único requisito fundamental não é tecnológico, é a disposição real das diversas organizações que compõem a cadeia de suprimentos em trabalhar de modo cooperativo, compartilhando informações.


A gestão de informações e eventos da cadeia de suprimentos permite uma visibilidade total do sistema, que aumenta seu grau de previsibilidade. A organização passa a assumir uma postura ativa, agindo antecipadamente a um evento que possa ser danoso, e aumentando seu entendimento dos processo. Entender os processos, por sua vez, torna possível melhorá-los, aumentando a rentabilidade e eficiência. Além disso, os agentes passam a ser capazes de identificar anomalias no próprio ambiente de trabalho, como prega a filosofia Lean, resolvendo o problema no próprio local, ou informando o gestor da cadeia de suprimentos com bastante antecedência. Já existem alguns softwares comerciais que facilitam o emprego do SCEM, permitindo uma gestão ainda mais eficiente. O diagrama abaixo esquematiza as etapas do SCEM.


Evidentemente, uma cadeia de suprimentos muito grande pode tornar impraticável o monitoramento de todos os KPIs. Sendo assim, é preciso que o gestor foque a análise nos caminhos críticos da cadeia de suprimentos, sendo que o evento será a conversão de materiais em um nó da cadeia ou o movimento de materiais entre os nós da cadeia (nós são as entidades - organizações - que compõem a cadeia). Para saber como identificar os caminhos críticos, além de conhecer a aplicação da ferramenta FMEA do Lean à gestão da cadeia de suprimentos, veja aqui nosso Ebook sobre o assunto.


Referência Bibliográfica:


CHRISTOPHER, Martin. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Tradução da Quarta Edição Norte-Americana. São Paulo: Cengage Learning, 2016. 332p.


Por: Marco César Prado Soares - FM2S Educação e Treinamentos, 2016

Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.