Provavelmente, você já se perguntou qual é a origem das ferramentas mais conhecidas do planejamento estratégico. A Matriz SWOT é uma delas, amplamente utilizada, mas sua história é envolta em mistérios e evolução.
Embora seja muito popular, sua origem exata é incerta, sendo o resultado de contribuições de diversos pesquisadores e instituições.
Neste blog, vamos explorar e destacar os caminhos que podem ter levado à construção da Matriz SWOT que conhecemos hoje.
O começo: de SOFT a SWOT
A origem da Matriz SWOT remete a um conceito anterior conhecido como SOFT, que foi desenvolvido durante os anos 1960 no Stanford Research Institute (SRI). Esse modelo inicial foi idealizado como um forma de análise estratégica para ajudar organizações a entenderem seus cenários internos e externos.
O termo SOFT representava as seguintes categorias:
- Satisfatório: Aspectos positivos no presente.
- Oportunidade: Potencial positivo no futuro.
- Falha: Aspectos negativos no presente.
- Threat (Ameaça): Potenciais negativos no futuro.
Essa estrutura básica foi apresentada por pesquisadores do SRI em um seminário em Zurique em 1964. Durante essa apresentação, os estudiosos Urick e Orr propuseram uma mudança significativa: substituir o “F” de Falha por um “W” de Weakness (Fraqueza).
Assim, nasceu o termo SWOT, que reflete de forma mais abrangente os aspectos internos e externos das organizações.
A mudança não foi apenas semântica; ela também tornou o modelo mais aplicável ao planejamento estratégico. Enquanto o SOFT estava focado em identificar pontos fortes e fracos no tempo presente e futuro, o SWOT incorporou uma visão mais ampla, permitindo que organizações avaliassem não apenas suas condições internas, mas também as forças externas que poderiam impactá-las.
Por que essa transição foi importante?
A evolução de SOFT para SWOT marcou uma mudança fundamental no pensamento estratégico. O novo modelo ampliou a utilidade da ferramenta, permitindo:
- Análises mais completas: Com a introdução das fraquezas (Weaknesses), tornou-se possível identificar vulnerabilidades internas de forma mais estruturada.
- Estratégias proativas: A inclusão de ameaças externas (Threats) ajudou as empresas a anteciparem riscos e a se prepararem melhor para o futuro.
Do conceito à prática
Na década seguinte, o conceito de SWOT começou a ser utilizado por consultores e organizações, mas ainda de forma experimental. Seu uso foi solidificado no trabalho de pesquisadores como Heinz Weihrich, que, em 1982, estruturou os elementos da análise em uma matriz que possuía quatro quadrantes.
Essa matriz veio a se tornar uma ferramenta mais acessível e prática, se consolidando como um recurso impossível de não se ter no planejamento estratégico.
Com isso, o primeiro passo para transformar uma ideia inicial, o SOFT, em uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas no mundo todo, o SWOT, foi dado.
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Evidência sobre a Matriz SWOT
Embora amplamente utilizada, a Matriz SWOT tem suas evidências de origem e desenvolvimento fragmentadas e que apenas se baseiam em relatos indiretos e trabalhos acadêmicos posteriores. Aqui reunimos algumas das principais evidências e marcos históricos que ajudam a entender sua trajetória:
- Relatos de Albert Humphrey
Um dos nomes mais associados à criação da SWOT é Albert Humphrey, pesquisador do Stanford Research Institute (SRI). Em um boletim de dezembro de 2005, Humphrey declarou que a análise SWOT surgiu a partir de um projeto de pesquisa conduzido nos anos 1960 e 1970, envolvendo empresas da lista Fortune 500.
O objetivo era desenvolver uma metodologia para ajudar os líderes corporativos a implementar mudanças estratégicas.
Contudo, havia limitações em seu relato e não há publicações acadêmicas oficiais atribuídas a ele que possam documentar a criação do SWOT. Mesmo tendo sido um dos pioneiros no uso do conceito, há poucas evidências concretas de que ele tenha, de fato, criado a ferramenta.
- Evolução no Stanford Research Institute
O trabalho realizado no SRI entre 1960 e 1970 é amplamente reconhecido com um dos esforços iniciais em torno da análise SOFT, que posteriormente evoluiu para o SWOT. No entanto, não existem documentos formais ou estudos publicados pelo SRI que confirmem o desenvolvimento detalhado da metodologia.
- Contribuições de Heinz Weihrich
No ano de 1982, o professor Heinz Weihrich apresentou a Matriz OWS (Threats, Opportunities, Weaknesses, Strengths), que reestruturou os elementos da SWOT em uma matriz de quatro quadrantes.
Essa matriz foi desenvolvida para gerar estratégias a partir dessa combinação de fatores internos (Forças e Fraquezas) e externos (Oportunidades e Ameaças). O professor é frequentemente creditado como o popularizador da análise SWOT em sua forma atual.
Uma das evidências mais fortes que solidificou esse título a Weihrich são a publicação do intelectual em 1982 na revista Long Range Planning que trouxe um modelo prático que consolidou o uso da ferramenta. Contudo, Heinz, creditou explicitamente que a Matriz Swot é uma evolução e não uma criação original e reconheceu as contribuições de outros pesquisadores.
- Citações acadêmicas e desenvolvimento posterior
Ao longo dos anos, vários estudos incorporaram ou referenciam a análise SWOT, mas raramente mencionaram sua origem exata.Alguns exemplos incluem:
- Haberberg (2000), que associou a ferramenta aos acadêmicos da Harvard Business School.
- Turner (2002), que acreditou na metodologia de Igor Ansoff, criador da Matriz Ansoff.
- King (2004), que observou a falta de documentação formal sobre a origem do SWOT, mas destacou sua difusão na prática corporativa.
- Ausência de documentação definitiva
A análise SWOT ganhou popularidade antes de ser amplamente documentada. Isso gerou lacunas no registro histórico, tornando difícil apontar com precisão seu criador ou momento exato de surgimento.
As ferramentas começaram a ser usadas em contextos práticos antes de serem formalizadas academicamente, o que explica a escassez de evidências diretas.
Por que a origem é tão incerta?
As ferramentas práticas como a SWOT frequentemente surgem de colaboração ou práticas no campo antes de serem registradas formalmente. Com isso, o modelo da Matriz foi adaptado por diferentes acadêmicos e consultores como todos os citados e mais outros que foram contribuindo para que houvesse uma “origem compartilhada”.
Ou seja, as evidências existentes sobre a Matriz SWOT são baseadas em relatos de uso prático e contribuições acadêmicas subsequentes. Embora não haja um consenso absoluto sobre sua origem, há uma certa clareza de que ela resultou de colaborações e aprimoramentos ao longo do tempo, tornando-se uma ferramenta valiosa para o planejamento estratégico perfeito.
Reinterpretação e novos modelos baseados no SWOT
Embora seja uma ferramenta essencial para o planejamento estratégico, a Matriz SWOT não permaneceu estática. Pesquisadores e profissionais reavaliaram sua aplicação, propondo novas abordagens e modelos que ampliam ou complementam seu uso.
Essas releituras buscam superar algumas limitações presentes no modelo original e, assim, torná-lo mais flexível a cenários complexos e dinâmicos.
- Modelo TOWS
O primeiro grande desenvolvimento veio com o Modelo TOWS, apresentado por Heinz Weihrich em 1982. Essa abordagem reorganizou os elementos do SWOT em uma matriz de quatro quadrantes para gerar estratégias mais detalhadas e específicas:
- Forças e Oportunidades (SO): Como usar as forças internas para aproveitar as oportunidades externas.
- Forças e Ameaças (ST): Como usar as forças para mitigar ameaças externas.
- Fraquezas e Oportunidades (WO): Como reduzir fraquezas internas para aproveitar oportunidades externas.
- Fraquezas e Ameaças (WT): Como minimizar fraquezas internas e enfrentar ameaças externas.
O Modelo TOWS transformou a SWOT em uma ferramenta mais prática e voltada à ação.
- Análise SWOT com hierarquia analítica (AHP)
Em 2006, Shinno et al. propuseram combinar a SWOT com o Processo de Hierarquia Analítica (AHP), uma técnica matemática usada para priorizar critérios em decisões complexas. Essa integração permitiu:
- Classificar e priorizar elementos do SWOT de acordo com sua importância relativa.
- Tornar as estratégias mais precisas e baseadas em dados.
Esse modelo é especialmente útil em cenários que envolvem muitos fatores ou stakeholders com diferentes interesses.
- Telescopic Observations
Panagiotou (2003) introduziu a abordagem Telescopic Observations, que reconceituou os elementos do SWOT dentro de categorias estratégicas específicas, como:
- Tecnologia
- Economia
- Legislação
- Ecologia
- Sociedade
- Outros fatores.
Essa reinterpretação ajudou a conectar a análise SWOT a questões contemporâneas e a adaptá-la a ambientes mais específicos.
- Análise SWOT dinâmica
Dealtry (1992) sugeriu um modelo dinâmico, que trata a SWOT não apenas como uma ferramenta pontual, mas como um processo contínuo. Ele propôs:
- Revisões regulares dos fatores SWOT para acompanhar mudanças no ambiente interno e externo.
- Conexões com outras metodologias de planejamento estratégico, como o Balanced Scorecard, para alinhar a análise com objetivos organizacionais.
- SWOT com integração de dados
Com o avanço da tecnologia, modelos mais recentes incorporaram ferramentas de análise de dados e inteligência artificial à SWOT. Isso inclui:
- Uso de big data para identificar tendências externas e validar ameaças e oportunidades.
- Ferramentas de visualização que tornam os elementos SWOT mais fáceis de interpretar.
- Aplicação em novos contextos
Além das modificações estruturais, o SWOT foi adaptado para novas áreas:
- Marketing: Usado para analisar posicionamento de marca e comportamento do consumidor.
- Sustentabilidade: Aplicado na análise de fatores ambientais, sociais e de governança (ESG).
- Setor público: Utilizado para planejar políticas públicas e melhorar a gestão de recursos.
- Limitações e reavaliações
Apesar das evoluções, as reinterpretações da SWOT também destacaram suas limitações:
- Falta de profundidade: O modelo tradicional muitas vezes não prioriza os elementos, levando a análises superficiais.
- Conexões insuficientes: A SWOT sozinha não garante estratégias eficazes; ela precisa ser integrada a outras ferramentas, como a Análise PESTEL.
As reinterpretações e novos modelos baseados no SWOT expandiram suas possibilidades de uso e relevância. Ao combinar a simplicidade original com abordagens mais complexas e tecnológicas, a ferramenta continua a evoluir, adaptando-se às necessidades de um mundo cada vez mais dinâmico.
Essas adaptações mostram que o SWOT é mais do que uma matriz; é uma base que inspira inovação no planejamento estratégico.
A origem da Matriz SWOT é um tema cercado de incertezas, com diferentes versões e contribuições que se complementam ou divergem. Sabemos que sua base conceitual foi desenvolvida no Stanford Research Institute (SRI) durante os anos 1960, com o modelo inicial chamado SOFT.
A transição para SWOT, liderada por pesquisadores como Urick e Orr, tornou a ferramenta mais abrangente e prática, preparando o terreno para sua adoção global. No entanto, a falta de documentação definitiva sobre sua criação deixa espaço para debates sobre a verdadeira autoria.
Contribuições importantes, como a de Heinz Weihrich, com a estruturação da matriz em quatro quadrantes, e de outros estudiosos que integraram métodos complementares, como a AHP, mostram como o SWOT foi sendo aprimorado ao longo do tempo.
Apesar das lacunas históricas, sua evolução reflete uma convergência de ideias e práticas que a tornaram indispensável no planejamento estratégico.
A relevância do SWOT está em sua simplicidade e versatilidade. Ela permite que organizações de todos os tamanhos e setores identifiquem fatores internos e externos que impactam suas estratégias.
Seu uso transcende o ambiente corporativo, sendo aplicado em áreas como sustentabilidade, políticas públicas, e até desenvolvimento pessoal.
Embora a origem exata do SWOT permaneça um mistério, sua trajetória comprova que é uma ferramenta viva, adaptável e continuamente relevante para a tomada de decisões estratégicas.
O SWOT não é apenas uma análise, mas um reflexo de como o pensamento estratégico pode evoluir para atender às demandas de um mundo em constante mudança.
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