Capacitando Líderes: isto é um desafio possível?
Capacitando líderes

15 de junho de 2016

Última atualização: 25 de janeiro de 2023

Capacitando Líderes: isto é um desafio possível?

Como garantir resultados capacitando líderes?


Dias atrás, fui convidado para palestrar sobre indicadores para RH no Grhuja Grupo de Recursos Humanos de Jaguariúna. Após explorar o tema sobre a inserção do RH no alcance das metas e na Excelência Operacional, abrimos para perguntas. Neste momento, mudamos um pouco o assunto e enveredamos pelo famoso anagrama CHA – Competências, Habilidades e Atitudes. Neste, fiquei intrigado com uma pergunta dos presentes:




é possível desenvolvermos um treinamento para atitudes? Como podemos melhorar a liderança da nossa empresa, por exemplo? Será que é contratando uma palestra de um motivado e famoso ex-atleta? Ou é melhor um curso sobre “Os Segredos da Liderança”? Ou então, contratar um coaching?



Confesso, que ao deparar-me com as perguntas sobre o tema, fiquei curioso. Ninguém põe em dúvida a importância de uma liderança forte. Peça a qualquer pessoa para fazer uma lista de grandes líderes e facilmente esta pessoa irá relacionar pelo menos uns 10 exemplos. Porém, se você perguntar aos cidadãos quais foram as características desses líderes lembrados por sua grandeza, a conversa rapidamente se diluirá em abstrações. Lincoln tinha convicção, Luther King Jr proporcionou um sonho inspirador, Jack Welch tinha atuação decisiva, Jordan intensidade, Bernardinho exigia a perfeição e Jobs era o inovador. Tais afirmações, ainda que verdadeiras, oferecem um modelo um tanto dispersivo para alguém que esteja cultivando a liderança de uma organização. Haverá alguma empresa capaz de ensinar atitudes como convicção, visão, determinação ou intensidade?



Capacitando líderes: é possível?


Penso que isso não acontece em algum curso ou encontro fora do local de trabalho. Porém a empresa pode criar um ambiente em que as pessoas sejamemponderadas por meio de experiências concretas para desenvolver convicção, confiança em uma visão, enfrentar desafios e deles sair fortalecidas, e atuar com convicção em reação a uma mudança rápida? Sim, ela pode. Em grande parte, isso se resume a criar uma cultura e então reforçar constantemente práticas consistentes que possibilitem as lideranças reais desenvolverem-se. Cultura e liderança são duas faces de uma mesma moeda, e ambas precisam ser constantemente recriadas e reforçadas por meio de deliberada atenção e ação. A melhoria continua dos processos exige contínua liderança.


Na palestra, disse que as atitudes poderiam ser desenvolvidas, assim como as competências e habilidades, porém, somente por alterações do meio. Se você deseja que na sua empresa as equipes tenham uma atitude mais cooperativa, comece derrubando as paredes que separam as áreas. Depois, faça a fusão de algumas gerências e altere o layout para facilitar as inter-relações. Lembro-me de um livro sobre a IDEO em que os autores relatam as alterações promovidas por Jobs quando este assumiu a Pixar. Tais mudanças foram fundamentais para estimularem as atitudes desejadas.


Porém, desenvolver líderes dentro de novas culturas é algo que pode ser feito, mas não é fácil e nem acontece rápido. Por onde deveria uma companhia – ou até mesmo você – começar? Pela árdua tarefa do autodesenvolvimento. Mesmo líderes com de comprovada capacidade precisam se olhar no espelho e refletir que “apesar do meu sucesso, tenho muitas fraquezas e muito ainda a aprender”.


Um líder de melhoria em desenvolvimento pode então começar a desenvolver outros; na verdade, ensinar outros é uma das melhores formas de autodesenvolver-se. Quando uma massa crítica de líderes que envolve inclusive o pessoal do chão de fábrica estiver desenvolvida, o líder poderá tornar-se o coach de uma dieta constante de kaizen diário e melhoria contínua, para finalmente criar o hoshin kanri, que alinha ações em todas as áreas da companhia para enfrentar os mais exigentes desafios do negócio. Mas, muitas empresas se encontram num mundo de liderança pós segunda guerra mundial ainda, como Liker fala, na era pré-Lean.



Capacitando líderes: a cultura


Tais empresas podem estar em situação de crise. Ou sua cultura pode ser reativa demais e focada exclusivamente no curto prazo, muitas vezes orientada por fusões e aquisições, ou por reduções de custos de curto prazo destinadas a produzir lucros trimestrais e a elevação do preço das ações. E, tendo sido promovidos já muitas vezes e sendo vistos como “líderes de sucesso”, alguns líderes atuais não estão comprometidos com o autodesenvolvimento e não valorizam o desenvolvimento de terceiros. Alguns deles vêem o ambiente como mais combativo do que colaborativo – a sobrevivência dos mais aptos, um verdadeiro House of Cards. Nesse caso, pode ser difícil, para líderes potenciais que queiram seguir o exemplo de excelência da Toyota, saber até mesmo por onde começar.


Se sua empresa é um hospital atendendo pacientes, um escritório de contabilidade ou uma loja de departamentos, é preciso que essa empresa tenha paixão pela entrega do respectivo valor. Apenas a partir de um ponto de paixão compromissada poderá um líder, ou uma empresa, criar uma visão que venha realmente a incentivar e inspirar as lideranças, seja com a visão Global para os próximos 10 anos, ou um mapa para orientar uma recuperação de curto prazo.


Se você começar a trilhar o caminho para uma verdadeira liderança Lean, a pergunta mais importante que terá de fazer a si mesmo é: “Eu realmente quero ser excelente?”. Se ter sucesso é o suficiente para você, não é preciso seguir este modelo. Há inúmeras formas de alcançar esta meta, obter resultados suficientes para ganhar dinheiro e sobreviver tempo suficiente para conseguir uma ótima aposentadoria. Esperamos que você queria mais. Esperamos que você deseje buscar a maestria.


As artes marciais oferecem uma forte metáfora para o papel da maestria na Toyota. O termo Kata é utilizado para explicar como tornar-se mestre nas habilidades de realizar melhorias e fazer o coaching de melhorias em um nível profundo. Kata é “forma”, porém, em sentido mais amplo, refere-se aos padrões dos movimentos precisamente coreografados que são vistos no teatro kabuki, no karatê e na cerimônia do chá. Em todas as disciplinas, há uma lógica de e uma sequência que são seguidas em busca da maestria, sob os olhares vigilantes de um sensei. A perfeição, obviamente, é sempre ilusória e algo inalcançável na prática. Mesmo assim, esse deve ser o objetivo – o abandono da busca da perfeição leva sempre à decadência.



Capacitando líderes: as empresas atuais


Hoje, quando olhamos para a maioria das grandes companhias, parece que perdemos o desafio e a excitação da maestria pessoal. Apesar dos inúmeros livros, consultores e vídeos que enaltecem a importância da vantagem competitiva e da diferenciação como um conceito, parece que perdemos a meta de incentivar as pessoas a fazer o máximo que podem. Segundo Liker, parece que o consumismo alcançou um domínio sem precedentes sobre nosso sistema de valores, com a vida sendo retratada como uma infinita série de “momentos de sucesso”, sem que se exija qualquer trabalho ou prática disciplinada nos intervalos para alcançar esses resultados. Ao abrir o Facebook, parece que a vida de trabalho árduo se transformou na coluna social de glamour, sucesso e felicidade.


Numa pesquisa realizada por Robert Thomas sobre os elementos que produzem líderes altamente eficientes, houve a constatação que esses líderes passaram uniformemente por momentos de definição que desafiaram a convicção central de cada um deles. Foi a forma como pessoalmente processaram esses “eventos essenciais” e aprenderam com eles que passou a diferenciá-los de líderes menos eficientes. Como atletas e artistas de alto desempenho, eles treinam com o mesmo empenho com que atuam.


Desenvolveram “estratégias pessoais de aprendizado” que proporcionam um regime de treinamento disciplinado para capacitá-los a concretizar suas aspirações. Thomas considera que o principal atributo dos líderes de sucesso é a “capacidade de adaptação: a habilidade de observar e estar sempre aberto a novos aprendizados”. E é um “processo contínuo de desafio, adaptação e aprendizado que prepara [os líderes] para a próxima aventura, quando o processo se repete”. Ambiente inspirador e “autodesenvolvimento”, ou seja, uma paixão por aprender e crescer na busca da maestria. O único, porém, é que tais características são muito escassas em muitas pessoas que aspiram a algum tipo de liderança. Conseguir lograr êxito capacitando líderes, é um grande desafio.



Capacitando líderes: é possível!


Se você é um líder, deve sempre manter uma lista de possíveis sucessores. Ao fazê-lo, pergunte-se: quem da minha equipe tem paixão pelo autodesenvolvimento? Ao localizá-lo, estimule este comportamento e busque melhorar o ambiente para torna-lo ainda mais inspirador. Com isto, tenho certeza de que terá papel fundamental na formação do seu futuro sucessor. É um sentimento incrível cujos resultados são enormes.


Para concluir, retomo à dúvida: é possível estimular o desenvolvimento de atitudes e, da liderança na empresa? Sim. Como? É isto que listamos neste texto. Bom proveito e vamos lá!

Virgilio F. M. dos Santos

Virgilio F. M. dos Santos

Sócio-fundador da FM2S, formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp (2006), com mestrado e doutorado na Engenharia de Processos de Fabricação na FEM/UNICAMP (2007 a 2013) e Master Black Belt pela UNICAMP (2011). Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da UNICAMP, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.