Lean Seis Sigma em Laboratório de Análises Clínicas: Papo Carreira com Jonas Santana
Jonas Santana de Oliveira é gerente de produção e engenharia clínica, farmacêutico e bioquímico, pós-graduado e tem residência em análises clínicas, também é especialista em engenharia clínica pelo Hospital Israelita Albert Einstein, é certificado em Black Belt. Tem uma grande bagagem na melhoria que é o assunto principal de hoje.
Por que você escolheu o curso e o que você destaca de aprendizado no seu início de carreira?
Não foi uma decisão muito difícil pra mim fazer farmácia, ao contrário de muitas pessoas que tem muita dificuldade pra escolher o curso me recordo que na oitava série eu já queria ser bioquímico e trabalhar com análises clínicas, isso era uma decisão que já estava pronta, então foi muito simples.
Eu tinha o sonho de trabalhar na bancada mesmo, de fazer exame, então me especializei nisso, então fiz pós-graduação em residência em análises clínicas e ali eu acho que mesmo sem saber, começou a despertar um pouco esse olhar curioso. De como eu posso melhorar esse processo. Aí surgiu a oportunidade na época na empresa, a empresa estava em expansão. Então, com isso veio muita automação.
Na época, eu assumi o cargo de coordenação de engenharia clínica. E com isso veio muita automação.
Nós montamos uma engenharia clínica, eu fui convidado pra montar essa engenharia clínica dentro da empresa e foi um desafio bem legal e nessa época foi o meu primeiro contato com o Lean.
Como foi a aplicação da melhoria?
A melhoria contínua ela realmente é uma mudança de cultura. Você vai desenvolvendo isso com o tempo e eu acho que talvez esse seja um dos maiores segredos de quem quer trabalhar com melhoria contínua. Tem que ter essa paciência, tem que entender as pessoas, entender os momentos.
Na saúde todos os setores têm possibilidades pra melhoria de processo. O que eu vejo e que é muito comum é melhorar a parte de atendimento. Como melhorar o tempo de espera, talvez isso sim esteja mais relacionado com a equipe de enfermagem, com direção de hospital.
Dentro do laboratório eu consigo aproximar um pouco mais as ferramentas, da indústria. Uma coisa que eu fiz no meu desenvolvimento de carreira foi ser um pouco resistente a fazer o meu processo de formação Lean só com pessoas da saúde porque no meu ponto de vista é claro na saúde a gente ainda tá muito mais atrasado em relação ao processo de industrialização, melhoria de processo do que automobilística, por exemplo.
Então, é onde eu quero ter mais contato com essas áreas, para eu entender como é que eles fazem e, obviamente, eu não vou aplicar o que tem na automobilística dentro do laboratório. Mas eu consegui adaptar, usar indicadores. Ao invés de eu ficar inventando novos indicadores, eu já sei de alguns indicadores de medida que podem trazer bons resultados e foi isso que a gente fez.
Um case muito bacana, nós tínhamos a nossa maior linha de produção, que a gente tinha um takt, que era o tempo de liberação do exame, de dez horas e meia, onze horas pra pros exames dessa linha de produção. Mudamos com mais tecnologia, um espaço mais confortável de trabalho e quando medimos seis meses depois, o nosso takt ainda era dez horas e meia, onze horas.
E aí começamos a implantar todas as ferramentas de melhoria possível com aquele time, Design thinking, brainstorming, aplicamos todas as ferramentas que estavam na mão ali, tínhamos a ideia que precisávamos de mais pessoas e mais máquinas no final das contas a gente não colocou mais pessoas naquele processo e a gente reduziu duas máquinas da linha e a gente passou de um de dez horas e meia para seis horas e meia.
Então, a gente teve um ganho absurdo no tempo de produção.
Quais foram os principais desafios na sua carreira?
Hoje olhando pra trás, foi ter vindo de uma cidade muito pequena, de ter tido pouco contato com a produção da indústria, enfim. E o processo que eu escolhi que foi a área de saúde. Então, assim, eu tive que ir quebrando algumas certezas que eu tinha.
Então, acho que talvez os maiores desafios foi isso, quebrar algumas certezas, enxergar para fora do meu "mundinho", para que você possa dar um passo pra frente, senão você fica sempre rodando no mesmo lugar.
Então, pra mim, tive muita dificuldade no início de aprender a negociar com as pessoas. E negociar pra quem trabalha com melhoria você tem que estar negociando o tempo inteiro. Então, não tem como você trabalhar num processo de melhoria sem negociação e isso pra mim foi um desafio.
Aprender também a não ter razão sempre. Eu acho que esses são os maiores desafios que não só pra mim, mas eu acho que pra todo mundo que quer trabalhar sendo gestor de pessoas.
E ser gestor de um time que provoca mudança você tem que ser disruptivo. As suas verdades não são absolutas, tem que estar desconstruindo todo dia pra construir algo novo.
Ambos os mercados público e privado na saúde estão abertos à implementação da melhoria?
Infelizmente eu acho que ainda pro público é mais difícil, tem oportunidade o importante é que as pessoas que tão trabalhando no público também comecem a ter essa curiosidade, buscar isso para que force essas mudanças.
Mas ao longo da minha carreira, eu não citei porque também a gente não dá pra falar de de todos e todas as etapas, mas eu eu trabalhei no serviço público. durante um tempo e um dos motivos que me fez na época seguir na minha carreira no privado foi essa a dificuldade na melhoria de processo, porque as às vezes a gente quer fazer algumas coisas e o processo burocrático ele atrapalha bastante.
Então assim, não é que as pessoas não querem, não querem, eu não estou falando aqui porque as pessoas não promovem essas mudanças porque tão no serviço público não. Existe também uma questão de legislação, é muita norma que tem que se cumprir, então às vezes fazer um processo de mudança é muito mais complexo.
Agora oportunidade, nós temos nos dois e eu vejo sim alguns movimentos no serviço público para melhoria de processos sim, tem muitas áreas trabalhando forte com isso. Eu acho que tem bastante oportunidade.
E quem tá no serviço público e quer fazer melhoria de processo, com certeza vai conseguir trazer resultados muito satisfatórios, inclusive não só resultados satisfatório pessoal, tem uma oportunidade de mudar uma coisa para a sociedade como um todo.
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